A Rússia foi sacudida hoje, novamente, por um duplo atentado. Desta vez ocorreu na cidade de Kizlyar, no Daguestão, parte do norte do Cáucaso, deixando 12 pessoas mortas e 23 feridas. Segundo as informações, houve inicialmente a explosão de um carro bomba. Momentos depois, quando policiais e curiosos se aglomeravam no local, houve uma segunda explosão, desta vez por um homem-bomba. Um porta-voz da polícia provincial disse que o chefe de polícia de Kizlyar Vitaly Vedernikov está entre as vítimas dos ataques.
Vê-se que esses atos se dão apenas dois dias depois do duplo ataque ao metrô de Moscou, que deixou 39 mortos. Hoje, se deram na região do Cáucaso, que é justamente o foco dos distúrbios na Rússia. Ali estão em ebulição, não só a província do Daguestão, local dos atentados de hoje, mas também a Tchechênia, a Inguchétia e a Ossétia do Norte. São províncias que lutam para se separar da Rússia, por entenderem que suas populações não tem nada a ver com a população russa. E, de fato, há muitas diferenças. A região do norte do Cáucaso sofreu grande influência do Império Turco-Otomano. Em função disto, a sua população é de tez escura, olhos castanhos, usa o alfabeto árabe e pratica o islamismo. Enquanto que os russos, de origem eslava, são de tez clara, olhos azuis, usam o alfabeto cirílico e praticam o cristianismo ortodoxo.
O primeiro-ministro Vladimir Putin prometeu caçar os autores dos atentados. O que não resolve nada. As forças russas já eliminaram várias lideranças da região, porém os atentados seguem acontecendo. Basta lembrar que ainda em novembro passado houve um atentado ao trem que liga Moscou a São Petersburgo, que deixou 26 mortos e cerca de 100 feridos. Foi mais um dos atos de terror que vem se repetindo desde 1994, quando foi travada a primeira guerra pela libertação da Tchechência.
Assim, não adianta o governo de Moscou proceder, como vinha fazendo, dizendo para o povo que a situação no norte do Cáucaso está normalizada. Conforme diz a professora emérita da London School of Economics Margot Light, “as guerras de guerrilhas podem continuar de uma geração para a outra. Uma guerrilha pode aceitar qualquer tipo de perda e sabe que um governo legítimo não poderá usar todas suas forças para combatê-la”. Por isto, entende, é preciso uma solução negociada. Mas não como vem fazendo a Rússia. Diz a professora: “Você manda alguém do governo central para a região, faz um plano, mas não envolve a população local. É ineficaz”.