É curioso o que está acontecendo nos conflitos pelo Oriente Médio, pois, ao mesmo tempo em que se tem uma intensificação dos combates, tem-se junto com eles um cuidado muito grande por parte dos atores envolvidos para não ultrapassar certos limites. Esta observação não vale para o que está acontecendo em Gaza, mas vale para as ações envolvendo Israel e Irã, assim como Israel e Hezbollah.
Senão, vejamos. Depois de Israel ter matado na embaixada do Irã no Iraque um alto comandante da Guarda Revolucionária iraniana e mais seis oficiais, num ataque aéreo, o regime dos aiatolás ficou na obrigação de dar uma resposta. Não queria, no entanto, fazer algo que provocasse uma tréplica de Israel e, por conseguinte, uma confrontação em larga escala entre os dois países. Conhecedora da situação, a diplomacia dos Estados Unidos saiu a campo e conseguiu algo, no mínimo, incomum. Foi acertado que o Irã iria lançar foguetes contra Israel, porém, em direção a áreas desabitadas para não causar estragos. E Israel não iria responder. Seria uma ação para que o regime de Teerã pudesse prestar contas à sua população, dizendo: “olha, demos o troco a Israel.
PROTEÇÃO
Mesmo com esta combinação, EUA e países árabes se juntaram a Israel no que toca aos sistemas de defesa, detonando a maior parte dos foguetes e drones iranianos a caminho do território israelense. Pois, a notícia que se tem agora é que nesta mais recente troca de ataques entre Israel e o Hezbollah, aconteceu algo parecido. Isto que a presente troca de tiros acorrida neste fim de semana foi a maior em duas décadas, envolvendo as duas partes.
Na madrugada deste domingo, 25, Israel lançou de surpresa no Líbano, o que foi definido como “ataque preventivo”, envolvendo cerca de 100 aviões, que abriram fogo contra centenas de lançadores de foguetes do Hezbollah, no sul do Líbano. Logo depois, o Hezbollah anunciou a sua represália, lançando cerca de 320 foguetes e drones contra bases miliares israelenses.
REPETIÇÃO
Em que pese a intensidade da confrontação, o incidente deixa uma semelhança com o ocorrido em abril, envolvendo Israel e Irã. Um ataque bem pensado para não desembocar em uma guerra aberta e que permite a ambos os lados “salvar a sua cara”, conforme disse de Jerusalém o correspondente de El País, Antonio Pita. Afinal, para Israel seria altamente custoso, tanto financeiramente, como militarmente bem como em apoio popular, se envolver numa outra guerra, enquanto não termina a de Gaza. Já o Hezbollah sabe que um ataque em massa de Israel provocaria algo semelhante ao que está acontecendo em Gaza.
O problema é que este perigoso jogo de “morde e assopra” está muito perto de extrapolar seus limites. No conflito deste fim de semana os ataques não foram a áreas despovoadas, como fez o Irã em Israel, Tanto que, no Líbano morreram três pessoas. E, em Israel, morreu um soldado e outros dois ficaram feridos. O líder do Hezbollah, Hassan Nasrallah, disse que o principal objetivo da organização era a base de Glilot, ao norte de Tel Aviv, que abriga o Mossad e outros serviços de inteligência. Além de mostrar a capacidade de seus foguetes de penetrar mais de 100 quilômetros em território israelense.
PERIGO
Assim é que, apesar dos percalços, o perigo de uma confrontação direta e ampla entre Israel e o Hamas é muito grande. Com o adendo que, neste caso, poderíamos ter ainda a participação do Irã. É bom lembrar que tudo isto decorre do que está acontecendo em Gaza. O prolongamento da guerra no território palestino infla os ânimos beligerantes na região.
A guerra em Gaza esteve por terminar na semana passada, quando da nona ida ao Oriente Médio do secretário de Estado norte-americano Anthony Blinken. O plano que ele apresentou chegou a ser aceito pelo Hamas. Ou seja, Numa primeira fase, trégua de seis semanas, retirada parcial das forças de Israel de Gaza e libertação dos reféns. Na segunda fase, retirada total de Israel de Gaza. O governo de Benjamin Netanyahu, no entanto, exigiu manter o que chamou de “Corredor Filadélfia”, uma presença militar no extremo da Faixa de Gaza, junto à fronteira com o Egito.
Com isto o acordo deu para trás e aumentou a possibilidade de uma ampliação do conflito pela região, com consequências inimagináveis.