Para quem não é muito familiarizado com a questão israelense-palestina, procuro explicar na abertura desta coluna que o território destinado pela ONU para ser o Estado da Palestina, envolve duas áreas, separadas por uma faixa de terra israelense. As áreas são, a Faixa de Gaza, dominada, desde 2005, pelo Hamas, a facção radical que realizou os atentados de 7 de outubro de 2023 contra Israel, matando cerca de 1200 pessoas e sequestrando outras 250, o que deu início à atual guerra de Gaza. Ali viviam, antes da guerra, cerca de 1,7 milhão de palestinos.
A outra área é a Cisjordânia, onde vivem cerca de 3 milhões de palestinos e que é governada pelo Fatah, partido que preside a Autoridade Nacional Palestina e que é pacifista. Aceita uma existência de dois estados, Israel e Palestina, convivendo com fronteiras definidas e seguras. Por seu posicionamento, acabou sendo expulso de Gaza pelo radical Hamas.
ASSENTAMENTOS
Israel tem uma presença militar em boa parte da Cisjordânia, o que vinha ajudando a manter calma aquela região. Esta calma passou a se alterar quando o governo israelense decidiu implantar colônias judaicas dentro da Cisjordânia, ou seja, dentro do território palestino. Fato que originou confrontações entre palestinos ali residentes e colonos invasores, além de protestos internacionais.
Movimentos de resistência dos palestinos começaram a surgir em cidades como Jenin, Nablus, Tubas e Tulkaren. O Irã que procura agir sempre que vê uma brecha para fustigar Israel entrou em campo, mandando armas para esses palestinos da Cisjordânia.
OFENSIVA
As ações que passaram a ser desenvolvidas a partir daquelas cidades mobilizaram o exército israelense que, nesta semana, realizou uma megaoperação na área. Segundo os informes do porta-voz das Forças Armadas israelenses foram mortos “nove terroristas armados”. Já de acordo com ativista palestino pelos direitos civis, Mustafa Barghouti, morreram “nove combatentes da resistência”. Ao falar para a BBC, disse que “os eventos desta quarta-feira na Cisjordânia sugerem que o Exército israelense está tentando levar a guerra de Gaza para a Cisjordânia”. Na realidade, em dois dias de combates morreram 18 palestinos.
A constatação é de que até agora os militares israelenses mantinham em parte o controle da situação. Mas, as táticas agressivas das IDF, Forças de Defesa de Israel – incluindo ataques aéreos altamente destrutivos a campos de refugiados, gerando um número crescente de mortes de civis – ameaçam transformar os grupos armados em heróis, com cada vez mais jovens palestinos se dispondo a se mobilizar. O que, sem dúvida, desenha um quadro de agravamento da confrontação, com sua extensão da sempre fervilhante Gaza para a até há pouco tranquila Cisjordânia.
ESTADOS UNIDOS
O porta-voz da Autoridade Nacional Palestina, Nabil Abu Rudeineh, citado pelo The Guardian, culpa as autoridades israelenses que ocupam a Cisjordânia pelas ocorrências e destaca a conivência dos Estados Unidos com tudo que ocorre. Isto porque, segundo ele, “fornecem proteção e apoio a esta ocupação para continuar a sua guerra contra nosso povo palestino”!
A propósito, em sua primeira entrevista, dada à CNN, após ser indicada como candidata do Partido Democrata às eleições presidenciais de 5 de novembro, Kamala Harris referendou a histórica posição do governo norte-americano de irrestrito apoio a Israel. A propósito, foi revelado que a ajuda anual em armas dos EUA para Israel soma 3,2 bilhões de dólares. Mas, na entrevista, Kamala disse que a par de manter a ajuda a Israel, vai trabalhar pela constituição de dois estados, Israel e Palestina.
EXTENSÃO
Pelo que está sendo relatado pelas agências noticiosas, a guerra está se estendendo perigosamente para a Cisjordânia onde, igual ao que ocorre em Gaza, o Exército de Israel tem determinado o deslocamento de pessoas de áreas a serem bombardeadas. O Ministério da Saúde Palestino da Cisjordânia pediu à comunidade internacional que ajude a proteger os hospitais das cidades que estão sendo atingidas.
Tudo isto faz incrementar o ódio contra Israel, mesmo numa área considerada pacífica. E o que é o pior: o até então moderado partido Fatah resolveu recriar o seu braço armado, o qual já se juntou aos movimentos radicais Hamas e Jihad Islâmica. Enquanto que os colonos judeus da Cisjordânia também incrementaram seus ataques contra os palestinos locais.
Ou seja, com o fato de não se conseguir um cessar-fogo para Gaza a guerra se expande e quem deve estar vibrando ao ver este “circo pegar fogo” é o Irã dos aiatolás.