A guerra na Ucrânia caracterizou-se nesta semana pelo uso recíproco de mísseis de longo alcance, num agravamento do conflito que, segundo o presidente russo Vladimir Putin, já adquiriu características de um confronto global. E, diante deste quadro, Putin anunciou sua decisão de alterar a doutrina nuclear, reservando o direito a seu país de atacar com armas nucleares tanto quem atingir o território russo com armamentos convencionais, quanto potências atômicas que apoiarem a ação. Ou seja, recado muito claro para a Ucrânia e os países membros da OTAN, a Organização do Tratado do Atlântico Norte.
ESCALADA
A escalada na guerra deu-se a partir do momento em que foi comprovada a presença de cerca de 10 mil soldados norte-coreanos em território russo. Força que estaria sendo usada na tentativa de expulsar os ucranianos da região de Kursk, que tomaram em junho. Diante disto, o governo dos Estados Unidos autorizou a Ucrânia a usar seus mísseis de longo alcance ATACMS, que foram disparados na segunda-feira, penetrando cerca de 300 quilômetros no território russo. No dia imediato, de acordo com autorização dada pelo primeiro-ministro britânico Keir Starmer, foi disparado contra a Rússia um míssil Storm Shadow do Reino Unido, também de longo alcance. Starmer foi enfático ao dizer, por ocasião de sua estada no Rio de Janeiro para o G20, que “a Ucrânia tem que ter o que for preciso para se defender”.
RESPOSTA
A resposta russa veio na madrugada de quinta-feira, com o lançamento sobre a cidade ucraniana de Dnipro de um míssil chamado Orechnik, que viaja a Mach 11, ou seja, 11 vezes a velocidade do som —13.582 km/h. Este, que é considerado um míssil intermediário, pode alcançar até 5 mil quilômetros.
O detalhe curioso é que o presidente Putin disse que, embora não tivesse esta obrigação, avisou os Estados Unidos meia hora antes do disparo. Porém, ressaltou que o uso de um míssil balístico hipersônico, recém desenvolvido, era uma mensagem ao Ocidente de que a Rússia responderá às suas ações “imprudentes” em apoio à Ucrânia. Já o porta-voz do governo russo, Dmitri Peskov, completou dizendo que o lado russo “demonstrou claramente sua capacidade de reação”.
ALVO
Para tornar mais tensa a situação, a Rússia advertiu nesta quinta-feira que a base de defesa antimísseis na cidade de Redzikowo, na Polônia, é mais uma provocação desestabilizadora por parte dos EUA e seus aliados da Otan, e que esta infraestrutura está há muito tempo na mira do seu Exército. A porta-voz do Ministério das Relações Exteriores russo, Maria Zakharova, em um pronunciamento à imprensa, disse que, “dada a natureza do nível de ameaças decorrentes deste tipo de instalações militares ocidentais, a base de defesa antimísseis na Polônia há muito tempo foi adicionada à lista de alvos prioritários para possível destruição”.
Esta é mais uma das afirmações de representantes russos que carece totalmente de possibilidades de se concretizar. Um ataque dessa natureza traria imediatamente para a guerra todos os 32 países membros da OTAN. E a Polônia, que desde o fim da Segunda Guerra e até 1989 esteve subjugada a Moscou, se tornou uma espécie de ponta de lança da Aliança Atlântica, tendo tratado de se armar fortemente com o apoio de base americana.
ADVERSÁRIOS
Vale lembrar que a OTAN foi criada em 1948, no surgimento da Guerra Fria, para se contrapor ao Pacto de Varsóvia, criado pela União Soviética. Em se confrontando com a OTAN, Putin iria se defrontar, não só com EUA, Canadá, Grécia, Turquia e países europeus, como com nações que, como a Polônia, fizeram parte da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas e que trataram de buscar o guarda-chuva da OTAN tão logo ruiu a URSS, em 1991. Este é o caso de Hungria, Tchéquia, Eslováquia, Letônia, Estônia, Lituânia, Bulgária e Romênia.
Assim, torna-se evidente que, embora todo seu potencial, a Rússia não terá condições de enfrentar todo este contingente de adversários. Mas, nem convém pensar no que seriam os estragos desse suposto enfrentamento. Chega o que já aconteceu até agora. Daí, quem sabe, ir protelando esta confrontação até Donald Trump assumir o governo americano e mostrar qual é o seu plano para acabar com a guerra. Só se espera que não seja o de uma capitulação humilhante da Ucrânia.