De todas as divagações que Donald Trump teve nos últimos dias a que precisa ser levada mais a série é a da Groenlândia. Embora seja necessário destacar desde logo que o caminho para alcançar o objetivo não é o que ele traçou, ou seja, pela força das armas. “Para fins de Segurança Nacional e Liberdade em todo o mundo, os Estados Unidos da América sentem que a propriedade e o controle da Groenlândia são uma necessidade absoluta”, escreveu Trump na rede Social Trump.
Mas, é lógico que ele quis causar impacto com sua declaração, pois sabe perfeitamente que a Groenlândia é território da Dinamarca, e, como disse o primeiro-ministro da Groenlândia, Müte Egede, “o território não está à venda”. Detalhe fundamental, a Dinamarca é país membro da OTAN. Em atacando, Trump estaria invadindo um país membro da Aliança Atlântica, o que, pelo estatuto da organização, faria com que todos os demais membros saíssem em defesa desse país invadido. Ou seja, uma absurda guerra entre membros da OTAN.
PARCERIA
É preciso destacar desde logo que Dinamarca e Estados Unidos já são parceiros, pois os norte-americanos possuem na Groenlândia uma importante base militar, dotada de sistemas de interceptação de mísseis lançados contra o território americano. E tudo o que Trump pretende fazer ali pode ser realizado dentro da parceria já existente. Aliás, algo que foi salientado pela primeira-ministra da Dinamarca, Mette Frederiksen.
Em entrevista à estação TV2, Frederiksen vincou que a Groenlândia pertence aos gronelandeses, mas sublinhou a importância da aliança com a Casa Branca. Sugerin a ampliação de uma cooperação que já existe.
É sempre importante lembrar que, ao olhar o mapa mundi, a gente vê os Estados Unidos do lado esquerdo e a Rússia no extremo direito, numa distância muito grande. Porém, no Ártico os dois países estão próximos, assim como também o Canadá está próximo da Rússia. E um detalhe, a capital da Groenlândia Nuuk (A Península em groenlandês) está mais próxima de Nova York do que da capital da Dinamarca, Copenhague.
RIQUEZA
O fato novo que estaria mudando a configuração da região seria os canais de navegação que estão se abrindo, em função do degelo da ilha, que é a maior do mundo e tem 80% de seu território coberto por gelo, com temperaturas que chegam a 45ºC negativos. E esses canais já estariam sendo explorados por navios russos e chineses.
Mas não é só isto. “O aquecimento global, negado por Donald Trump, tem feito com que o Ártico e a Groenlândia sejam áreas estratégicas cada vez mais significativas”, explicou Lier Ferreira, professor dos cursos de direito e de relações internacionais do Ibmec-RJ, em conversa com o Conexão News, da Rede Record, desta quarta-feira (8). Segundo o especialista, com o degelo, “não apenas as riquezas da Groenlândia hoje exploradas, mas, as riquezas minerais e petrolíferas que lá existem e estão mapeadas poderão ser exploradas”. Na realidade, a exploração de depósitos de rubi já começou em 2007. Registra-se também a prospecção de outros minerais (urânio, alumínio, níquel, platina, tungstênio, titânio e cobre).
AUTONOMIA
A Groenlândia se tornou um território autônomo em 2009, menos em política externa e de segurança. Até agora depende ainda de verbas da Dinamarca para se manter. Porém, o quadro que se vislumbra com o degelo é de uma ampla exploração dos recursos naturais. Dentre estes ainda é preciso ressaltar as terras raras, muito usadas na produção de baterias. Um mineral do qual a China detém a hegemonia.
Por todos estes aspectos pode-se entender o interesse de Trump na Groenlândia. Um interesse que não é novo. Quando de seu mandato anterior já manifestou-o. Se a ideia já existia, a quantidade de menções feitas por Trump ao assunto agora, em um momento em que está formando seu governo para tomar posse em 20 de janeiro, sugere que a Groenlândia subiu posições em importância nos planos futuros do republicano. Só que não se justifica a forma escandaloza e desrespeitosa como se manifestou desta vez.