A Europa e a China estão implementando uma aliança econômica que pode redefinir as relações geopolíticas, deixando os Estados Unidos de lado. As ameaças de sanções e de abandonar a Otan por parte do presidente Donald Trump, tem preocupado os europeus, a ponto de buscarem novas alianças. No centro desta transformação está o Corredor do Meio, uma nova rota que conecta a China à Europa através da Ásia Central. Passa pelo Cazaquistão, Mar Cáspio, Azerbaijão, Georgia e Turquia.
Esta rota terrestre contorna os caminhos tradicionais, como Canal de Suez, reduzindo o tempo de trânsito de semanas para apenas dias. Tornou-se uma alternativa para indústrias como eletrônica e automotiva, que dependem de velocidade e confiabilidade, sendo um componente básico da Iniciativa Cinturão e Rota, BRI na sigla em inglês, que é chamada de a “Nova Rota da Seda”. Esta alternativa oferece uma vantagem estratégica ao evitar áreas com pirataria ou conflito.
REALINHAMENTO
O sistema é visto como um realinhamento da Europa em termos de estratégias comerciais. Países do corredor central como Hungria, Polônia e Romênia estão investindo em ferrovias para reforçar o novo trajeto. Itália e Grécia aderiram à BRI para reformar e ampliar seus portos. A parceria permite que a Europa desfrute dos mercados em crescimento da Ásia, ao mesmo tempo em que diminui suas vulnerabilidades.
Outro mercado em expansão que é vislumbrado é o do Oriente Médio. Especialmente pela pujança da Turquia, com sua localização privilegiado entre a Europa e a Ásia e com grandes investimentos em ferrovias e portos modernos. O país tornou-se um ponto chave nessa ligação. Até o Iraque também está investindo em ferrovias e rodovias. O objetivo dos países da região é se tornarem uma alternativa mais barata e mais rápida do que a rota pelo Canal de Suez.
INICIATIVA
O que se observa é que a China está aproveitando o atrito do governo Trump com a Europa para arrastar o velho continente para seu lado. Pelo menos no que toca às parcerias comerciais. A Iniciativa Cinturão e Rota é o carro chefe do processo. Desde 2013, a BRI financia mais de três mil projetos de infraestrutura em mais de 60 países, criando uma vasta rede de rotas comercias que conectam Ásia, Europa e África. Essas parcerias reforçam a posição da China como uma potência global, impulsionadora de novas rotas comerciais que dispensam as rotas marítimas tradicionais.
Críticos acusam que a China cria uma dependência econômica por meio da dívida. O que procede, pois o país costuma, por exemplo, financiar uma ferrovia que ele mesmo constrói em determinado país. Depois de um certo tempo, se o país que recebeu a obra não consegue quitar a dívida, empresas chinesas assumem o seu controle. Isto já aconteceu em vários países e até com o porto de Trieste, na Itália.
COMPETIÇÃO
Sentindo a presença cada vez maior da China na América Latina, onde, inclusive, já construiu no Peru o maior porto da região, os Estados Unidos resolveram agir. A ação desta semana do secretário de Estado Marco Rubio junto ao Panamá foi um exemplo disto. Sob ameaça, conseguiu convencer o país a não aderir ao BRI.
Em 2021, os EUA chegaram a anunciar, muito timidamente, um projeto que seria para se contrapor ao chinês, para ser desenvolvido na América Latina. Ganhou o nome de Reconstruir um Mundo Melhor, tendo uma verba de US$ 40 trilhões. O projeto era para ser iniciado pela Colômbia, tradicional aliada dos EUA na região, porém, pouco se ouvir falar sobre sua concretização.
DIFERENÇA
O que está se vendo atualmente é uma grande diferença entre o modo de agir de China e de Estados Unidos. Enquanto os chineses tratam com diplomacia seus parceiros e lhes oferecem amplas possibilidades de melhoramento de sua infraestrutura e de crescimento, os Estados Unidos, especialmente agora com o governo Trump, fazem ameaças e afrontas aos seus parceiros da região. Trump usa seu truculento sistema de negociador imobiliário para conduzir o governo americano. Agride para depois amaciar. Só que, a geopolítica e a boa relação entre nações amigas, não funcionam assim.
O fato é que o chamado Corredor do Meio pode mudar a geopolítica e as relações comerciais internacionais. Enquanto o dragão asiático segue espalhando o fogo por onde passa, a águia americana parece já não alçar voos muito distantes.