Nesta quinta-feira, 20, Donald Trump completou um mês à frente do governo dos Estados Unidos. Um período em que sacudiu o mundo com pronunciamentos sobre objetivos absurdos, como transformar o Canadá no 51º estado dos EUA, retomar o Canal do Panamá e invadir a Groenlândia. Ao mesmo tempo, neste período, ele buscou colocar em prática uma de suas promessas de campanha: acabar com a guerra na Ucrânia um dia após a posse.
Claro que este “um dia” é simbólico, porém, representava algo como a ser decidido logo que assumisse a Casa Branca. E para surpresa de um mundo que ficou estupefato, ele está conseguido. Usou de seus meios nada ortodoxos de negociar.
AVANÇO
O primeiro desses meios foi a decisão de ir direto em quem pode decidir. Neste caso, Vladimir Putin. Promoveu, de imediato, reunião na Arábia Saudita entre os chanceleres dos EUA e Rússia, deixando de fora a Europa e a própria Ucrânia. E pior, partiu para a agressão sobre o presidente ucraniano Volodimir Zelensky, a quem chamou de “ditador sem eleição”.
Diante dessas agressões e das evidências que a proposta de Trump consiste numa capitulação da Ucrânia, seria de se esperar que Zelensky rompesse com o americano. Este, no entanto, muito habilmente mandou um negociador, Keith Kellogg, a Kiev para conversar com o presidente ucraniano. E, pelo visto, foi bem sucedido.
MUDANÇA
Zelensky ficou falando em estabelecer “vínculos sólidos” com os Estados Unidos, como conseguir o retorno de prisioneiros de guerra e implantar garantias de segurança efetiva. Pois, nestas declarações se percebe a mudança que ocorreu.
Trump está forçando o fim da guerra por perceber que a Ucrânia não tinha condições de expulsar os russos de seu território. Bilhões de dólares em armamentos e suprimentos vinham sendo gastos por EUA e Europa, sem perspectiva de sucesso. Pelo contrário, tendência a aumentar a conflagração, com o uso cada mais intenso pelas forças ucranianas de armamentos mais potentes, fornecidos pelo Ocidente. Se encaminhando, perigosamente, para uma conflagração global.
ESTRATÉGIA
Se, com a ajuda de quase 300 bilhões de dólares da Europa e de cerca de 100 bilhões dos EUA, não foi possível derrotar Putin, Zelensky deve ter sentido que parando a participação de Washington, conforme Trump anunciou, a vitória se tornaria inviável. Solução, entregar para a Rússia os territórios ocupados, em troca de parar as matanças e destruições e do recebimento de ajuda para reconstrução.
Passo seguinte, se adaptar à nova realidade, desde que esteja garantida a segurança ucraniana. E isto parece estar embutido em alguns pontos que já foram acertados até agora, como: a Ucrânia não podendo fazer parte da Otan, mas, podendo entrar na União Europeia.
PROTEÇÃO
Neste caso, fica contemplada a possibilidade de crescimento da Ucrânia com sua adesão ao bloco europeu. Mas, e a proteção sobre outras possíveis incursões de Putin? Esta viria com a presença dos EUA dentro do território ucraniano. Trump já deixou claro que quer, como ressarcimento pela ajuda americano, os minérios contidos na Ucrânia. Entre eles, as famosas Terras Raras, utililíssimas na produção de baterias.
Assim, enquanto Putin se alegra com a conquista dos territórios que queria, Trump dá mais uma de negociante – não muito escrupuloso – pegando os minerais. Porém, ao mesmo tempo, estaria dando a segurança de que Zelensky precisa.
PARTILHA
Em últimas análise, vislumbra-se o fim da guerra com uma partilha da Ucrânia entre Rússia e EUA. Com isto, teríamos a configuração de uma nova geopolítica regional e um enfraquecimento da Europa, que gastou horrores e viu a Ucrânia ser engolida pela parceria Putin-Trump. A qual tem ainda o mérito de evitar a grande aproximação que estava havendo entre a Rússia e a China. Resta ver se vai ser isto mesmo e se vai dar certo.