O título desta coluna é da revista britânica The Economist e está estampado em uma foto com réplica do boné usado pelo presidente Donald Trump, em que ele usa Make America Great Again. O título da matéria é incisivo: Dia de Ruína. A publicação faz uma avaliação de quão benéficas serão para a China as medidas que o presidente Trump acaba de tomar, com as taxas impostas aos seus mais diversos parceiros comerciais.
A avaliação é de que “está colocando pressão na China para corrigir seus erros econômicos e também criando oportunidade para ser redesenhado o mapa geopolítico da Ásia em favor da China”.
UNIÃO
Talvez um dos primeiros resultados disso tenha sido aquela questão que já abordei na coluna de quinta-feira, ou seja, a união dos dois grandes parceiros dos Estados Unidos na Ásia, Coreia do Sul e Japão, com o maior competidor norte-americano, a China. Fato que ficou concretizado a partir e reunião entre representantes dos três países, realizada na terça-feira, 1.
Japão e Coreia do Sul vão ajudar a China a ser ainda mais competitiva do que já é no mercado internacional de alta tecnologia. Vão fornecer os componentes de semicondutores que os EUA haviam vetado, em 2022, de serem fornecidos para Pequim.
QUEDA
O Japão acabou sendo taxado com uma tarifa superior a imposta à União Europeia. Enquanto os europeus tiveram 20%, o Japão recebeu 24%. Já a China, que recebera 34%, respondeu de imediato com a reciprocidade, com uma tarifa no mesmo percentual. Pequim respondeu com uma bateria de medidas que vão de denúncia ante a Organização Mundial do Comércio, até a restrição de exportações de terras raras. Não esquecendo que já havia uma imposição anterior de 20% sobre os produtos chineses. A acusação de Pequim é de que as medidas impostas pelos EUA não se ajustam às normas da OMC.
O golpe, porém, foi sentido nos Estados Unidos de imediato ao anúncio de Trump, isto porque na quinta-feira, as empresas que tinham ações negociadas na Bolsa de Nova York tiveram, no seu conjunto, um prejuízo que somou 7 trilhões e 200 bilhões de dólares. Algo inimaginável para nossa realidade.
GUERRA
Na avaliação de economistas citados pelo jornal espanhol El País, diante das taxas impostas por Trump e das represálias anunciadas pela China, estamos diante de guerra comercial, fazendo com que as bolsas fiquem tentando assimilar o violento golpe protecionista do presidente americano. “Os investidores apertaram o botão de pânico no modo prevenção”, segundo o presidente do Federal Reserve Jerome Powell, para quem os efeitos econômicos da disputa serão significativamente maiores do que o esperado e se traduzirão em menor crescimento e maior inflação.
Já para The Economist a avaliação é de que está aberto o caminho para a China avançar nos negócios com os parceiros americanos que se sentirem prejudicados. E este avanço já deve começar pelos dois gigantes asiáticos, Japão e Coreia do Sul.
DEBOCHE
Daí o fato de ter debochado de Trump, usando seu próprio boné de campanha para atestar o maior crescimento da China. Ressalta, porém, que para a maior parte do mundo a decisão é catastrófica. Daí a capa da revista com o título Ruination Day, Dia de Ruína, que é o se constitui para a maior parte do mundo. Especialmente, para a Europa que já está debilitada e vem lutando contra uma inflação que ronda os 3%, o que é muito alto para os seus padrões.
Já quanto ao Brasil, os indicativos de economistas nacionais são de que poderemos fazer do limão uma limonada. Isto porque poderão ser abertos mercados de países que sofrerão taxas mais altas. E nesses está a Índia, um mercado em expansão e que recebeu uma taxação de 27%. Mas, enfim, tudo ainda é uma incógnita. Até mesmo se Trump irá manter as taxas que anunciou, depois de perceber o estrago que está causando.