O presidente Donald Trump está envolto em várias guerras. Guerra que ele criou, a das tarifárias, guerras que ele abraçou, da Ucrânia e de Gaza, e guerra que ele pode iniciar, contra o Irã. Estaria ele preparado para todos estes enfrentamentos? A indagação maior é sobre o enfrentamento tarifário com a China, que assume proporções incontroláveis, pois estamos diante de uma escalada, em que um país estabelece uma taxa e o outro revida com outra maior. Somente nesta quarta-feira tivemos a China chegando a 118% nas taxas para os EUA, enquanto Trump revidava com 125%.
Diante disto vem o questionamento se Trump entende “A Arte da Guerra”, conforme preconizou o chinês Sun Tsu cinco séculos antes de Cristo, livro que até hoje se constitui num referencial para o tema. Segundo o economista Li Daokui, da Universidade Tsinghua, citado pela Folha de S. Paulo, Trump está demonstrando não entender da arte da guerra.
NÚMEROS
A sacudida que foi dada no mercado financeiro, desde quarta-feira, 2, quando Trump anunciou as primeiras medidas, mostram que empresas com ações no mercado de Nova York tiveram prejuízos trilionários, em dólares. A maior parte, empresas norte-americanas. Só as empresas do assessor de Trump, Elan Musk, perderam 18 bilhões de dólares.
Isto fez os EUA se isolar do mundo e, ao mesmo tempo, ver crescer o seu principal oponente, a China. Não só no enfrentamento com os Estados Unidos, mas, o que é mais preocupante para Washington, na aliança com históricos parceiros norte-americanos como Japão, Coreia do Sul e União Europeia.
RECUO
Como uma guerra é feita de avanços e recuos, conforme o seu andamento, Trump teve que fazer uma manobra grande para trás, reduzindo para 10% por 90 dias as taxas para todos os países, com a única exceção, que foi a manobra para frente, a China. Uma forma de tentar trazer para seu lado todo o contingente que ficara ao lado de Pequim. Afinal, países como o Vietnã, que recebera taxa de 47%, fica agora com 10%, que foi a taxa mais baixa estabelecida inicialmente.
Esta decisão já evita um périplo que haveria a Washington, por parte de dirigentes de países que iriam tentar negociar uma redução nas taxas que sofreram. Porém, fica a curiosidade sobre decisões de Trump sobre os 25% específicos para as importações de carros. Até porque já havia uma recíproca a esta decisão, como por parte do Canadá.
PODER
O problema de Trump continua sendo o poder de seu principal competidor. Até porque nesse enfrentamento tem muito daquela expressão de “o feitiço se voltar contra o feiticeiro”. Isto porque, múltiplas empresas norte-americanas têm fábricas no território chinês. A começar pela poderosa Apple que produz o I Phone, cujo preço deve triplicar no mercado americano.
Outro aspecto é o quanto os EUA deixarão de vender para a China, cujo mercado interno está enorme expansão. Hoje, o país tem um contingente de quase 400 milhões de pessoas com alto poder aquisitivo. Ou seja, mais do que a população americana. Não é sem razão que as maiores lojas de grifes internacionais – como Armani, Ralph Loren, Louis Vuitton, Gucci, Versace, etc, estão estabelecidas em Xangai. Claro que ainda há um significativo contingente de pobres e miseráveis, porém, o salto que o país deu na última década está fazendo esses contingentes irem, gradativamente, entrando no mercado consumidor. Um dos preceitos do livro do general Sun Tsu é conhecer seu inimigo. E aí vem a indagação se Trump está conhecendo bem o potencial de seu inimigo.
CREDIBILIDADE
Outro problema que está sendo criado para os EUA, com toda esta convulsão no mercado, é o sobre a credibilidade de um sistema do país que sempre foi reconhecido como um porto seguro para o investidor. Larry Summers, ex-secretário do Tesouro dos EUA, escreveu em um post no X em que diz: “Esse padrão altamente incomum sugere uma aversão generalizada aos ativos dos EUA nos mercados financeiros globais. Estamos sendo tratados pelos mercados financeiros globais como um mercado emergente problemático.”
Lembrando que só nos dois primeiros dias após o anúncio do tarifaço, as empresas com ações na Bolsa de Nova York tiveram um prejuízo de 11 trilhões de dólares. Na arte da guerra, diz o general Sun Tzu, é preciso também avaliar os possíveis prejuízos internos. Isto é o que parece que Trump fez nesta última manobra. Um recuo estratégico visando possíveis aliados, porém, o inimigo demonstra cada vez mais poder de enfrentamento.