O que era esperado começa a acontecer: a aproximação da Europa com a China, diante das tarifas que estão sendo impostas pelo presidente norte-americano Donald Trump. Está certo que ao deixar em 10% a tarifa para todo o mundo e elevar para 145% para a China, Trump tentou demonstrar que só tinha um inimigo, Pequim.
No entanto, todo mundo sabe que ele só recuou nas taxas generalizadas que implantara, e retirara pouco tempo depois, por causa do pavor que a medida gerou na Bolsa de Nova York, com perdas de 11 trilhões de dólares em dois dias para as empresas com ações na mesma. E ficou claro que aquele era um recuo estratégico. E que, mais adiante, a Europa também será taxada.
ECONTRO
Não demorou para um chefe de país europeu ir a Pequim em busca de parceria. E quem fez isto esta semana foi o primeiro-ministro espanhol Pedro Sanchez, que foi recebido entusiasticamente pelo presidente Xi Jinping. Afinal, tudo o que o chinês quer é buscar parceria com uma potência como a União Europeia.
E não perdeu tempo. Seu país já elencou uma série de reivindicações na sua relação comercial com a Europa, pedindo, por exemplo, a suspensão do controle sobre produtos chineses de alta tecnologia, como semicondutores, assim como veículos elétricos. Também entrou na reivindicação o levantamento das limitações que são impostas a empresas chinesas de 5G, como Huawei e ZTE. Sabe-se que estas barreiras foram impostas pela Europa, fundamentalmente por pressão dos EUA.
RECURSOS
Além de abrir caminho para uma união com a Europa contra as tarifas de Trump, a China ainda dispõe de alguns fatores que pesam a seu favor na confrontação com os Estados Unidos. Alguns deles já foram alvo de suspensão de taxações por parte de Trump. São os smartphones, computadores e outros aparelhos eletrônicos, objetos de uma chiadeira do consumidor norte-americano, que estava vendo o preço dos mesmos triplicar. Trump imediatamente os tirou das taxações.
Mas, outro elemento que a China tem a seu favor é o fornecimento para a indústria de alta tecnologia dos EUA de minerais especiais. Como as chamadas terras raras, um conjunto de 17 elementos utilizados na fabricação de baterias de celulares, computadores e dos carros elétricos, da Tesla de Elon Musk, por exemplo. E também são usados até em aviões e aparelhos de ressonância magnética. Estes elementos, embora possam ser encontrados em outros países, são difíceis de serem processados de forma econômica e segura como procede a China. E os EUA tem dependido dessa produção chinesa que, aliás, reponde por 61% da produção global. Porém, de acordo com a Agência Internacional de Energia, seu controle sobre o estágio de processamento é de 92%.
RETALIAÇÃO
Sentindo a força da aliança que começa a se estabelecer entre a Europa e a China, o governo americano reagiu. E, como lhe é peculiar, de forma arrogante. O secretário do Tesouro, Scott Bessent, mandou um recado para a Europa, dizendo que se aproximar da China seria “cortar sua própria garganta”. Comentário que chocou o premiê espanhol, mas que mereceu uma resposta do embaixador da China em Madri, Yao Jing, o qual disse que os Estados Unidos, “de fato, cortam a garganta de todos com suas tarifas”. E aproveitou para ressaltar que “a China nunca será uma inimiga da UE”.
UNIVERSIDADE
Não bastasse a briga que estabeleceu com o mundo, Trump também comprou uma outra com uma das universidades mais conceituadas e a mais antiga de seu país: Harvard. A ação de Trump ameaça não só a autonomia da instituição de ensino superior, mas a liberdade de pensamento e os avanços nas pesquisas de ponta no país.
O Departamento de Educação do presidente congelou 2,3 bilhões de dólares de recursos destinados à universidade. Apesar de Harvard ser uma instituição privada, o governo federal paga por bolsas de pesquisas e contratos dos quais se beneficia.
DIVERSIDADE
Dentre as exigências, Trump quer que as universidades americanas em geral acabem com medidas de diversidade e inclusão de minorias raciais, étnicas, religiosas, de gênero ou nacionalidade. Considera que as manifestações pró-Palestina, realizadas no âmbito das universidades, se constituíram em atos de antissemitismo. Trump já deportou estudantes de outras instituições que defendem a integridade de território para a Palestina e pedem o fim da guerra em Gaza.
Enfim, são guerras contra aliados tradicionais, que os faz se aliar a seu principal inimigo, assim como enfrentamento com as principais instituições de ensino do país, na busca de impor um pensamento retrógrado.