Fosse nos tempos da Guerra Fria, a confrontação entre o capitalismo liderado pelos Estados Unidos e comunismo sob o comando da União Sovíética, possivelmente a Venezuela já estaria em guerra civil. Hoje, como os norte-americanos não sentem mais a ameaça russa no seu quintal, tentam agir através de palavras de advertência. Estas, no entanto, só servem para ajudar Maduro na sua cantilena de interferência estrangeira e de que tudo que acontece de ruim na Venezuela é culpado “imperialismo Yanke”. Além de EUA, União Europeia e vários países das Américas já se manifestaram contra a Constituinte convocada por Maduro. Logicamente, em vão.
Os passos para a ditadura foram sedimentados. Como diz o jornalista Clovis Rossi: “Foi despacito, para citar um sucesso mundial. Hugo Chávez foi comendo a democracia pelas bordas, pouco a pouco, mas preservou ao menos o centro do prato, na forma de eleições razoavelmente livres”. Pois digo que foram livres enquanto deram vitória ao sistema. Vitórias que foram consagradas ao tempo de Hugo Chávez pela errada decisão da oposição de boicotar as eleições. Isto permitiu a Chávez formar uma maioria absoluta no Parlamento, que lhe possibilitou aprovar tudo o que queria, incluindo-se a aparelhagem do Judiciário e do Tribunal Eleitoral. Quando a oposição conquistou a maioria absoluta na Assembleia, sua ação foi bloqueada pelo aparelho do Estado.
Bloqueada a ponto de Maduro violar a própria Constituição legada por Hugo Chávez, a qual determina que a convocação de uma Assembleia Constituinte deve passar por consulta popular. Não é preciso dizer que a Assembleia empossada nesta sexta-feira é de predominância de chavistas radicais, como Diodado Cabello, considerado o número dois do sistema, a ex-chanceler Delcy Rodriguez, que deve presidir uma chamada “comissão da verdade”. E chega ao ponto de ter a compô-la a mulher de Maduro, Cilia Flores, e o irmão de Hugo Chávez, Adán Chávez. Assim como terá também a advogada Maria Alejandra Díaz, que numa entrevista nesta semana ao programa de televisão “La Hojilla”, justificou a perda de peso dos venezuelanos, não pela comida que está faltando no país, mas pela sua reeducação alimentar, já que aprenderam a deixar de lado produtos como farinha, açúcar e manteiga, que são engordantes. E que aprenderam a fazer pão de abóbora, que diz ser mais saudável.
Seria rizível se não fosse trágico. Como trágico também pode ser o desfecho desta situação que hoje não deixa mais dúvidas: a Venezuela é uma ditadura. O que abre caminho para a guerra civil.