A União Europeia está ameaçando punir a Polônia pelo crescente autoritarismo do país. Dentre estas medidas autoritárias estão o controle da mídia e a recusa em receber sua cota de migrantes, no plano de redistribuição de refugiados. Na extensão estaria uma reforma do Judiciário com a concessão de poderes ao presidente para nomear ou exonerar juízes, assim como estabelecer limites à sua atuação. Estas posições têm sido duramente criticadas tanto pelo presidente francês Emmanuel Macron como pela primeira ministra alemã Angela Merkel.
Mas a Polônia não está só nessa ação. Tem a companhia da Hungria. E ambos os países alegam que a União Europeia não pode interferir nas questões internas. Esta é a novidade que está surgindo para um bloco que até há pouco se mostrava homogêneo. Um bloco cuja construção começou em 1957 com o tratado de Roma, com apenas seis integrantes. Foi se consolidando com o tempo com base numa política que buscava a integração e a defesa dos preceitos democráticos para anular os nacionalismos exacerbados que levaram a duas grandes guerras com milhões de mortos. A consagração veio com a Tratado de Mastrich, que estabeleceu a livre circulação de pessoas e de mercadorias por todos os países. O sistema funcionava tão bem que, quando desmoronou a União Soviética, os países que orbitam em torno de Moscou trataram logo de bandear para o bloco ocidental. Hoje são 27 os países a integrar essa comunidade.
Porém, o que estaria dando errado para começar essa rebeldia? Diga-se de passagem, algo que se dá em dois países que compunham a antiga URSS, que tem, portanto, um histórico de autoritarismo. A questão básica está ligada à migração. E o sentimento de poloneses e de húngaros é o mesmo de grande parte das populações de toda a Europa, incluindo-se a França de Macron e a Alemanha de Merkel. Vide o crescimento dos partidos nacionalistas. A Europa sempre foi aberta aos cidadãos de outros continentes que fugiam de guerras ou de catástrofes. Este número, porém, era pequeno. Agora, com as guerras na Síria, Líbia, Iraque, Iêmen e os conflitos e fome na África, esse número supera os milhões. Gente que tem outra cultura, outra religião e que não costuma se integrar à cultura local. O resultado está inserido naquilo que Samuel Huntington chama de “o choque de civilizações”. E, em consequência, no abalo de um dos pilares da União Europeia que é a integração. Vide o Brexit.