Sob a mediação do Egito, as facções palestinas Fatah e Hamas firmaram um acordo de reconciliação. Sempre que se promove a paz o fato deve ser saudado. No entanto, algumas indagações ficam no ar. Especialmente, para se saber qual o grupo que mudou sua posição. O Fatah é um grupo laico, que dirige a Autoridade Nacional Palestina, e que tem sua dominação sobre o território da Cisjordânia, onde vivem 2,5 milhões de palestinos. O Hamas é um grupo fundamentalista islâmico que controla a Faixa de Gaza, onde vivem 1,5 milhão de palestinos. Ambos travaram uma guerra entre si, em 2007, em Gaza, que deixou cerca de 600 mortos e resultou na expulsão das autoridades do Fatah daquela região.
A diferença entre os dois grupos, no entanto, não é apenas de ordem religiosa. É uma diferença que diz muito no contexto do conflito dos palestinos com Israel. O Fatah reconhece a existência do Estado de Israel, bem como a política dominante na ONU de dois estados, o de Israel e o da Palestina, convivendo com fronteiras determinadas e seguras. O grupo inclusive firmou um acordo de paz com Israel, em 1993, sob a mediação dos Estados Unidos, que resultou no Prêmio Nobel da Paz para o então presidente da ANP Yasser Arafat, o primeiro-ministro de Israel Yitzah Rabin e o chanceler israelense Shimon Peres. Este acordo avançou até o ano 2000, mas retrocedeu depois que Ariel Sharon assumiu o governo israelense e está estagnado atualmente.
O Hamas é um grupo fundamentalista islâmico, não aceita o Estado de Israel e prega uma luta armada para destruí-lo. É considerado grupo terrorista tanto por Israel como por EUA. Ao longo dos últimos anos tem provocado vários conflitos com Israel ao lançar mísseis contra cidades israelenses vizinhas. Estas ações têm correspondido a fortes reações pela forças israelenses, com a destruição quase total de Gaza. Este aspecto deve ter colaborado muito para a perda de prestígio do Hamas junto à comunidade palestina, pois a Faixa de Gaza enfrenta uma crise econômica e social aguda, com 50% de desempregados, com precários serviços de água e esgoto e com o fornecimento de luz por apenas três horas ao dia. O Egito, que tem acordo de paz com Israel, passou a pressionar o Hamas, bloqueando as passagens e os túneis que a organização construiu ligando o deserto do Sinai. O quer, possivelmente, ajudou a dobrar a organização.
Se o presidente da ANP, Mahmmoud Abbas, quiser levar adiante o processo de paz com Israel terá que desarmar os cerca de 25 mil militantes do Hamas e provar que tem o domínio sobre a organização.