A reforma salarial anunciada pelo governo de Cuba para começar a vigorar a partir de agosto, é a prova mais cabal de rompimento de um dos preceitos básicos do comunismo, a igualdade salarial. Até agora na ilha todo o mundo ganha praticamente igual. Do encanador ao médico, a diferença é muito pouca. Mas ninguém passa de 30 dólares mensais de salário. Isto, com exceção dos cerca de 5% de cubanos que conseguiram trabalhar na área que está sendo responsável pela sustentação do país, o turismo.
Levantamento da Universidade de Havana, indica que hoje o poder aquisitivo dos cubanos é só 24% do que era em 1989, ao tempo da União Soviética. Mas aqueles que trabalham com o turismo ganham bem. Profissionais de nível superior deixam suas atividades em Havana para irem trabalhar em Varadero, ganhando o mesmo que antes recebiam, ou seja, cerca de 15 dólares, que é o salário médio do cubano. Porém, ganhando um dólar por dia de gorgeta – e ganham muito mais – já soma ao final do mês o dobro do salário. Assim é que os empregos no turismo são disputados no mercado negro.
Raúl Castro parece ter-se dado conta de que o marasmo do comunismo, vigente na maior parte da ilha, não leva a nada. Contrasta com a pujança de Varadero, onde, estimulados pelo ganha crescente, os cubanos trabalham cada vez com mais afinco. Daí a decisão governamental de derrubar o teto salarial e ampliar os prêmios de produtividade.
E a maior heresia contra o sistema vigente foi estampada pelo oficialista Granma, nas palavras do vice-ministro do Trabalho, Carlos Mateu. Ele disse; “Em geral, há uma tendência de que todo o mundo receba o mesmo, e esse igualitarismo não é conveniente”.
Cuba já dera dois passos importantes em abril de ruptura com normas retrógradas do comunismo. Uma das decisões do governo de Raúl Castro foi acabar com o chamado “apartheid turístico”, ou seja o veto que havia aos cubanos para se hospedarem em hotéis do país ou alugar carros. A outra medida, foi a liberação do uso do celular pelos cubanos em geral.
O setor hoteleiro se tornou o responsável pela economia cubana na década de 90, depois que faliu a União Soviética e acabou a ajuda econômica que Cuba recebia de Moscou. Grandes redes hoteleiras da Espanha e da França se estabeleceram no centro histórico de Havana, nas praias de Varadero e em pequenas ilhas turísticas como Cayo Largo. Esse setor gera mais de 2 bilhões de dólares em ingressos para o país.
Em 14 de abril começou a venda de celulares a cubanos, o que também era restrito. As lojas cubanas também começaram a vender computadores e DVDs, além de bicicletas elétricas. É preciso destacar que a oferta desses produtos não significa que eles se tornam acessíveis aos cubanos. Não se pode esquecer que o salário médio no país é de 15 dólares. Quem ganha mais, como um médico ou um professor universitário no topo da carreira, chega a 30 dólares. Um telefone celular será vendido por 120 dólares, o que é muito difícil para o cubano pagar, mesmo em um longo financiamento, com parcelas mensais.
Há, porém, a citada camada que ganha mais em função do turismo. E é nessa que o governo se espelha para colocar em prática a reforma salarial. Como se observa, pouco a pouco, os ventos do capitalismo vão soprando sobre Cuba.