Comunismo, uma palavra sagrada para a esquerda, vai deixar de existir na constituição de Cuba. Vai continuar o termo socialismo, que também diz muito, mas não tem o mesmo impacto. Cuba vai tentar seguir o modelo da China, ou seja, abrir-se à economia de mercado, porém, mantendo o regime político fechado, de um só partido. Enquanto contou com o apoio da União Soviética Cuba conseguiu manter um sistema que fornecia o básico para sua população, embora gradativamente este básico fosse diminuindo de quantidade e de qualidade.
Por ser uma espécie de ponta de lança da revolução comunista na América, Cuba recebia de Moscou todo o suporte econômico. Assim, fornecia açúcar e recebia o caríssimo petróleo. Com o término da União Soviética, Cuba balançou e Fidel Castro apelou para o turismo como forma de atrair dólares. Aliás a moeda símbolo do capitalismo é oficialmente rejeitada, porém, circula livremente no país símbolo do comunismo. Varadero passou a ser um dos grandes pontos de atração turística e de rendimentos para o país. Passou a ser também o lugar em que todo o cubano queria trabalhar. Afinal, o salário mais alto do país, de um médico ou de um professor universitário é de 30 dólares ao mês. Fazendo bico em Varadero e ganhando de gorjeta um dólar ao dia, o cidadão cubano já fatura outro salário. Mas, a gorjeta dá muito mais que isto. Assim é que o encanto da revolução liderada por Fidel se esvaiu quando engenheiros, advogados e outros profissionais de nível universitário passaram a disputar uma vaga para trabalhar de garçon em Varadero.
Quando assumiu o poder, em fevereiro de 2008, Raúl Castro passou, gradativamente, a introduzir mudanças no sistema. Permitiu os pequenos negócios, num primeiro passo, e logo abriu-se para a propriedade privada. Assim, as pessoas puderam passar a comprar a sua casa ou um imóvel para colocar um bar, um restaurante, uma oficina, etc. Para quem ganhava 15 dólares por mês, qualquer trabalho permite um rendimento maior, como, por exemplo, consertar aparelhos eletro-eletrônicos. O problema, quase sempre, são as peças de reposição, inexistentes na ilha.
Mas, a grande tacada para o governo foi o turismo. A parceria com grandes redes hoteleiras internacionais fez incrementar-se esse setor, trazendo divisas para o país e gerando empregos. Além de possibilitar, depois de muito tempo, a entrada de veículos novos no país. Mas os velhos carros, modelos dos anos 50, são uma atração em Havana, cidade que parou ao mesmo tempo dos carros. A Havana antiga é tombada pelo Unesco. É patrimônio da humanidade e, como tal, deve ser preservada. Aliás, a Unesco tem feito um intenso trabalho na recuperação dos prédios, porém, sua ação tem alcançado cerca de 20% dos prédios que necessitam restauração. A maior parte se constituiu em grandes cortiços, abrigando famílias pobres que ali se aglomeram. E segue à espera de recuperação. Em suma, vai-se derretendo o regime que foi ícone para a esquerda latino-americana, mas vai se estruturando para o turismo um país que vale a pena ser visitado.