O Equador vota no próximo dia 28 a nova Constituição, elaborada sob iniciativa do presidente Rafael Correa. Como tal, está nas ruas a campanha eleitoral, a qual divide o país. Até divisões familiares tem acontecido. Porém a divisão mais significativa está entre as duas principais cidades do país, Quito e Guayaquil. Isto porque os líderes destas duas cidades conduzem cada um deles uma das alternativas. O presidente, que está sediado em Quito, defendo sim para a nova Constituição, o prefeito de Guayaquil lidera o movimento pelo não.
Casualmente, nesta quinta-feira, a cidade de Quito amanheceu decorada com bonecos, que são pendurados como se fossem marionetes. É uma iniciativa do Agrupamento Jovens Unidos por Guayaquil, que desenvolve a campanha pelo não, procurando mostrar com os bonecos como o povo é manipulado pelo governo de Correa. Ou seja, as ações de Guayaquil avançam sobre Quito, fazendo acirrar-se ainda mais o debate.
O curioso é que quase todos os oposicionistas criticam Correa por estar seguindo Hugo Chávez e Evo Morales e citam o Brasil de Lula como o exemplo que deveria ser seguido. Assim, a todo momento, pelos mais diversos meios de comunicação, se está ouvindo elogios ao caminho que segue o Brasil.
BRIGAS DE CORREA
Na busca de conseguir aprovar, no próximo dia 28, a sua Constituição estilo Hugo Chávez, o presidente do Equador Rafael Correa tem comprado múltiplas brigas, com todos aqueles que se voltam contra o seu projeto. Há algum tempo que vem se batendo com o prefeito de Guayaquil, Jaime Nebot, que lidera a campanha pelo não. Porém, está repercutindo de forma mais intensa a briga que Correa comprou com uma das maiores expressões do esporte no Equador, o corredor Jefferson Perez, duas vezes medalha de prata olímpica, entre tantos outros títulos. Acontece que Jefferson, ao receber sua medalha em Pequim, assumiu posição política neste momento importante para o país. Não se alhienou, como faz a maior parte dos esportistas. Após receber a medalha, colocou a bandeira do Equador sobre os ombros e disse: “espero que não tenham mudado a bandeira, nem o escudo nacional, porque como vão as coisas, vão querer mudar-nos a cabeça e confiscar-nos a língua”. Foi o suficiente para Correa dizer que ele estava agindo em nome do capital internacional. Gol contra de Correa, ainda ontem a Rádio Quito e o jornal El Comércio realizaram ampla entrevista com Jefferson Perez, onde referenda seu posicionamento político e amplia a sua campanha pelo não.
UM DECRETO EXDRÚXULO
Dentre os múltiplos e controversos decretos estabelecidos pelo presidente do Equador Rafael Correa, um segue provocando contestação. Trata-se do ato que abriu, indiscriminadamente, as fronteiras do país, para qualquer cidadão do mundo, com ou sem documento. Ou seja, quem não tiver para onde ir, por ser rejeitado, pode ir para o Equador que será bem recebido.
A questão básica que está sendo colocada é que o país caminha na contra-mão da Europa. Enquanto esta restringe a entrada, o Equador escancara. Isto num país que tem sérios problemas de segurança e de desemprego. Exatamente os dois fatores que são apontados pela Europa para restringir a entrada de estrangeiros. Sabe-se que esta massa só virá agravar estes problemas.
Daí a indagação que é feita ao presidente e que ele não responde: escancarar o país deste jeito, em troca de que?
PIOR PAÍS PARA INVESTIR
Ao mesmo tempo em que isto ocorre, está sendo divulgada aqui uma pesquisa, feita inclusive com a participação da FGV, a qual indica que o Equador está em último lugar em termos de países para investir na América Latina. Reflexo, logicamente, do governo que tem.
INFLAÇÃO PREOCUPA
A inflação, que tem sido o flagelo de muitos países, também está presente no Equador. O país que no ano passado fechou o ano com uma inflação de apenas 2,44%, projetara para este ano algo entre 3,4 e 3,9%. No entanto, a acumulada do ano já bate nos 10,02%, segundo informe do Instituto Nacional de Estatísticas e Censos. Menos mal que agosto fechou em 0,21%, com uma queda significativa sobre julho, que foi de 1,52%.
Neste país, que tem o dólar americano como moeda corrente, a esperança de recuperação fica por conta da manutenção em alta do preço do petróleo. O país produz todo o petróleo que consome e sobra ainda algum excedente para exportação. E esta é a expectativa do governo, para tentar cobrir o rombo de 15 bilhões de dólares que tem no orçamento. A vantagem é que o preço do barril nem precisa estar nos mais de 110 dólares que está hoje. A projeção dos equatorianos é de que com o barril a 85 dólares eles já conseguem suprir o déficit. Isto, logicamente, se conseguirem controlar a dívida pública, que aqui atinge a 29,6% do PIB.
A BELEZA DAS FLORES
Chama a atenção aqui no Equador a beleza das flores. As rosas então são algo espetacular. Pelos mais diversos pontos de Quito, como hotéis, lojas e escritórios, se vê enormes ramalhetes de enormes rosas. Bem maiores do que as que temos aí. E com muito maior durabilidade em função do clima, tendo em vista que em Quito a temperatura média do ano é de 10 graus a noite e 20 durante o dia. E não passa de 25 graus. Sendo que quase todos o dias cai uma chuva fraca, como se fosse especialmente para regar as flores.
Diante disto, o Equador se tornou um dos maiores produtores mundiais de flores. Flores que são vendidas muito baratas. Compra-se um boquê com 25 rosas por apenas um dólar. Se for 50 rosas, é um dólar e meio. Assim é que, apesar de ser um grande produtor, o país aufere pouco com a produção. A propósito, neste país de economia dolarizada, as coisas são muito baratas. A começar pelo táxi. Uma corrida de um bairro distante ao centro da cidade, custa de 2 a 3 dólares. Para o aeroporto, 5 dólares.
Ou seja, um país onde nós brasileiros, com o nosso real reforçado, temos poder de compra.