Israel é um país que se estruturou e se sedimentou com base nos preceitos religiosos, tendo para tal os seus fundadores resgatado milênios de História. Porém, ao mesmo tempo em que cultiva ritos e costumes de mais de dois mil anos, o país é hoje um referencial em pesquisa e desenvolvimento tecnológico, algo ligado a um capitalismo laico. Estes dois fatores tendem a se chocar cada vez mais. Ao mesmo tempo, o país é um grande centro de atração turística. E, como tal, tem que oferecer para os turistas laicos os confortos que costumam encontrar por onde andam, mas que, em muitas ocasiões, se chocam com os preceitos judaicos. Não esqueço um dia em que estava em Jerusalém e, num sábado, estava sendo inaugurado o estacionamento do shopping Mamilla, situado junto à muralha da cidade antiga. De repente, um grupo de judeus ortodoxos postou-se nos altos do prédio protestando pelo ato estar sendo realizado no dia santificado.
Este conflito, que tende a intensificar-se, está influenciando hoje na formação do governo. Benyamin Netanyahu, cujo partido Likud foi o vencedor das eleições de 9 de abril, não conseguiu até agora juntar um composição para formar o seu governo. Conquistou 35 cadeiras e precisa chegar a 61 para ter a maioria no Parlamento de 120 integrantes. Na busca da composição, as cinco cadeiras que precisava e que seriam dadas pelo partido ultranacionalista Nossa Casa, do ex-chanceler Avigdor Lieberman, acabaram sendo negadas. Esta negação está ligada a estas diferenças que se aprofundam.
O partido de Lieberman é secular. Ele é nascido na Moldova, migrou para Israel e se tornou líder dos cerca de 1,5 milhão de imigrantes de países que compunham a antiga União Soviética e que foram para Israel a partir de 1990. E esses imigrantes, em sua maioria, também são seculares. Lieberman quer acabar com a regalia que é dada aos ultraortodoxos de não prestarem o serviço militar. Porém, esses ultraortodoxos são aliados fiéis de Netanyahu, que fechou acordo com eles, comprometendo-se a manter a dispensa do serviço militar. Fato que afastou as cinco cadeiras do partido de Lieberman que Bibi precisava. Assim é que, em meio a essas divergências, novas eleições terão que ser realizadas a 17 de setembro.