Os Estados Unidos, desde fim da década de 1970, vem tendo no Irã o seu principal inimigo no Oriente Médio. E nos últimos anos vinham tendo o apoio do Iraque no combate aos muçulmanos xiitas do Irã. No entanto, os acontecimentos dos últimos dias têm marcado uma ruptura nesse apoio. O fato deflagrador foi um ataque por milicianos xiitas a uma base americana em Kirkuk, sexta-feira da semana passada, que matou um empreiteiro estadunidense. Como reação, os EUA lançaram ataques aéreos contra bases usadas pelo grupo Kataib Hezbollah, em território iraquiano, ao longo da fronteira com a Síria, matando 25 milicianos e ferindo mais de 50. Esse ataque foi condenado pelos governos de Teerã e de Bagdá e deu origem à invasão da embaixada americana na capital iraquiana, com os manifestantes gritando “morte à América”. O fato mais recente foi o ataque, no aeroporto de Bagdá, nesta sexta-feira, que matou o general iraniano Qassim Suleimani.
E aí vem a indagação sobre o porquê de o governo iraquiano se voltar também contra os EUA, acusando o ato como de violação à sua soberania territorial e exigindo a saída dos militares americanos
estabelecidos no país. Para entender o ocorrido é preciso voltar um pouco na História. Mais precisamente a 1979. Até aquela data o Irã, então sob a liderança do xá Reza Pahlevi, era um aliado incondicional dos EUA. Veio a Revolução Islâmica dos aiatolás com a mudança de regime. Em 1980, esse Irã de maioria xiita, entrou em guerra com o Iraque, que tem 70% da população xiita, mas que era governado com mão de ferro pelo muçulmano sunita Saddam Hussein. Na ocasião os EUA deram apoio bélico ao Iraque. A guerra terminou em 1988. Em 1990 o Iraque invadiu o Kuwait e teve que retroceder por ação de força multinacional liderada pelos EUA.
Em 2003, sob a acusação de que o Iraque possuía armas de destruição em massa, o então presidente americano George W. Bush determinou a invasão do país. Agia, no entanto, em nome das indústrias do petróleo, das armas e da construção, posto que os inspetores da Agência Internacional de Energia Atômica nada haviam constatado. Os mesmos tiveram que sair às pressas para não levarem bombas pela cabeça. Resultado, Saddam foi deposto e morto, o país mergulhou no caos, as corporações americanas não conseguiram solidificar seus interesses e o sucessor de Bush, Barack Obama, retirou as tropas americanas do país em 2011. No entanto, em 2014 viu-se obrigado a mandá-las de volta porque, no caos em que o Iraque se tornou, surgiu o Estado Islâmico, formado por radicais islâmicos sunitas. O grupo chegou a declarar um califado em terras do Iraque e da Síria, país que está em guerra civil desde 2011. A ação de tropas americanas, de curdos, iranianas e da Rússia destruiu o Estado Islâmico. Resultado, os xiitas tomaram o poder no Iraque e estão ao lado dos parceiros do Irã na determinação de correr com os EUA da região. Washington considera o general Suleimani como o idealizador da estratégia iraniana de apoiar milícias no Iraque e na Síria contra as tropas americanas. Prova da aliança que se amplia contra os EUA.