Criou-se mais um perigoso cenário de guerra no Oriente Médio, porém, este ataque de Israel ao Irã é algo que estava a cada dia mais evidente de que iria acontecer. Afinal, o Irã seguia avançando em seu programa nuclear e Israel seguia afirmando que não toleraria ver o seu maior inimigo na região com poder nuclear. O governo israelense sempre entendeu que o tema se tratava da própria sobrevivência do Estado de Israel.
A determinação de atacar era tamanha que não foi dada atenção ao pedido do maior aliado de Israel, os Estados Unidos. Ainda nesta quinta-feira. 12, o presidente Donald Trump pediu que Israel evitasse de atacar o Irã, porque estava programada uma nova rodada de negociação em Omã, neste domingo 15, entre representantes dos dois países, sobre o programa nuclear iraniano. Pouco tempo depois do pedido Israel estava atacando.
RAZÕES
Fica claro que Israel não atendeu ao pedido de Trump porque já estava com todo o plano de ataque montado. Já há muito tempo que Israel tem a pretensão de atacar seu grande rival. Sempre protelara o ataque por falta do aval de Washington. Os fatos, no entanto, mudaram e Israel sentiu a oportunidade de agir.
O principal destes fatos foi a percepção de que o Irã seguia célere no seu programa nuclear que, na visão israelense, era para chegar à bomba atômica. Embora o Irã insistisse de que é para fins medicinais. Outro fator que pesou foi o enfraquecimento militar e de aliados que o Irã teve nos últimos meses. Basta ver o enfraquecimento dos movimentos aliados dos aiatolás na região: Hamas, Hezbollah e Jihad Islâmica. Acrescente-se ao elenco a Síria que, desde a derrubada de Bashar Ak-Assad, mudou de lado. Hoje é aliada das monarquias árabes, rivais do Irã e, gradativamente, aliados de Israel. E ainda se pode acrescentar um outro fato, que é o abalo que sofreu o sistema de defesa antiaéreo do Irã com o anterior ataque realizado por Israel.
ESTRATÉGIA
Outro detalhe importante para não atender ao pedido de Trump, é que este ataque foi estruturado ao longo de meses e havia chegado ao momento da execução. Afinal, a eliminação de figuras importantes, como o chefe da Guarda Revolucionária Islâmica, Hossein Salami, e o comandante do Estado Maior das Forças Armadas, general Mohammad Bagheri, não pode ser algo de uma hora para outra. Requer planejamento e tempo. E muito mais tempo e planejamento requer a ação de eliminação de seis cientistas nucleares iranianos, que conduziam o programa nuclear.
Segundo as poucas informações que se tem a respeito deste último ato, um dos cientistas morreu na explosão de seu automóvel. Um atentado que foi preparado com tempo, seguramente pelo Mossad, o serviço secreto israelense.
DESDOBRAMENTOS
A estas alturas só restou para o presidente Trump aplaudir a ação israelense. Embora as preocupações com atos retaliatórios do Irã a embaixadas e quartéis dos EUA pelo Oriente Médio. O secretário de Estado, Marco Rubio, mandou mensagem ao Irã dizendo que os Estados Unidos não têm nada a ver com o ataque. A resposta iraniana foi de que, sem a ajuda americana Israel não poderia ter feito o que fez.
Mas, a tensão maior, evidentemente, fica agora com a população israelense pela retaliação iraniana. O chanceler iraniano Abbas Araghchi, classificou o ataque de Israel como “declaração de guerra”. E de fato, a guerra continuou nesta sexta-feira com novos ataques de Israel contra instalações militares, numa complementação da etapa anterior, mirando indústrias e centros de lançamento de mísseis terra-terra.
RESPOSTA
E a retaliação iraniana veio, aparentemente, segundo as informações das agências noticiosas, somente com o uso de drones. Estranhamente, sem o uso de mísseis. Ressalte-se que hoje os drones têm um extraordinário poder de destruição, basta ver o que os drones da Ucrânia fizeram na Rússia. E já há quem afirme que estes pequenos artefatos estabelecerão uma nova forma de guerra daqui para a frente. E o seu grande diferencial é o preço, pois, diferentemente dos caríssimos mísseis e outros artefatos, um drone como os utilizados pela Ucrânia custa em torno de 600 dólares.
TENSÃO
Prevista ou não, esta é mais uma guerra em que se envolve Israel e contra um inimigo com relativo poder. Sabe-se que, por maior eficiência que tenha um sistema de defesa, sempre escapam alguns artefatos que podem provocar grandes estragos. Além disto, há uma outra e grande preocupação, que foi alertada pela Agência Internacional de Energia Atômica: o vazamento nuclear. O que pode ocorrer em função dos ataques à usina atômica. Assim é que, se a guerra já era prevista, sua sequência e consequências são de uma grande imprevisibilidade.