O presidente chinês Xi Jinping marcou, para depois da reunião do G20, um encontro exclusivo com o presidente Lula, em Brasília, para tentar persuadí-lo com o seu programa Bild and Road Iniciative – em tradução livre, Iniciativa da Rota e do Cinturão. A qual vem sendo chamada de a Nova Rota da Seda. Trata-se de um projeto contemplado com uma verba 1,5 trilhão de dólares, para construção de portos, aeroportos, rodovias e ferrovias mundo afora.
TENTÁCULOS
O projeto tem uma peculiaridade. Os chineses constroem e financiam a obra, para desfrutarem de facilidades para o comércio com o país que a recebe, bem como para com outros países das imediações. Um detalhe: se o país não consegue pagar o financiamento, a China toma para si a administração e posse do empreendimento. Isto já aconteceu com o porto de Trieste na Itália. Sem contar o ocorrido em outros países pobres.
É uma forma de Pequim espalhar seus tentáculos pelo mundo, impondo sua influência e, porque não, dominação. Vejam que o regime comunista de Pequim não busca impor uma dominação política, mas, uma dominação econômica. Este projeto começou na Ásia, se estendeu para a Europa. Dali para a África e chegou à América Latina. Fato marcante na região deu-se pouco antes do encontro do G20 no Rio. Xi Jinping passou pelo Peru, onde inaugurou o maior e mais moderno porto da América Latina. Ponto fundamental de conexão da América com a Ásia.
BRASIL
Embalado pelo que representa o porto peruano para os negócios latino-americanos com a Ásia, Xi foi a Brasília com uma oferta altamente tentadora. A construção de uma ferrovia Transoceânica. Segundo dados do Instituto Cultural Brasil-China, a ferrovia sairia do porto de Açu, no Rio de Janeiro, passando por Minas Gerais, Mato Grosso, Rondônia, chegando até Boqueirão da Esperança no Acre, numa extensão de 4.400 km. Teria conexão com a Ferrovia de Integração Centro-Oeste, que liga Randonópolis no MT ao porto de Santos, já em funcionamento. Assim como também conectaria com a Ferrovia Norte-Sul, parcialmente em funcionamento.
Do Acre, com a parceria do Peru, a ferrovia se estenderia até o recém inaugurado porto peruano. A publicação do ICBC ressalta que “embora o trajeto previsto inclui passagem por trechos da Floresta Amazônica e a subida pelos Andes, esses obstáculos seriam superados pela experiência da China em megaprojetos de infraestrutura”. Dá para imaginar o que isto representaria para o comércio do Brasil e de países da região com a Ásia.
GRANDEZA
A avaliação do governo brasileiro é de que o Brasil é muito grande para ser levado à reboque pela China. Sem contar o enorme endividamento. Além do mais, apesar de a China ser hoje o maior parceiro comercial, há que preservar a relação com o segundo maior parceiro, os Estados Unidos.
Assim, conforme as informações de Brasília, o Brasil resistiu pressão da China para entrar na Nova Rota da Seda, mas não deixou de fazer negócios. Aliás, foram muitos dentro do que foi convencionado como “protocolo de sinergias relacionadas ao tema”. Assim é que foram assinados 37 acordos que envolvem as mais diversas áreas de interesse, indo do agro à tecnologia. São áreas de infraestrutura, indústria, energia, mineração, finanças, comunicações, desenvolvimento sustentável, turismo, esporte, saúde e cultura.
NÚMEROS
Nem parece, mas já decorrem 15 anos que a China se tornou o maior parceiro comercial brasileiro. Hoje dá para ressaltar ainda a afinidade que há entre os dois governos. Tanto que a posse de Donald Trump na presidência dos EUA em janeiro foi um dos temas tratados com muito cuidado por Lula e Xi. No ano passado, Lula fez uma visita à China e neste ano completam-se 50 anos de relações diplomáticas entre os dois países.
Segundo o Ministério de Relações Exteriores, em 2023 o comércio entre os dois países atingiu o recorde de 157,5 bilhões de dólares. E de janeiro e a outubro deste ano chega a 136,3 bilhões de dólares, com um superavit de 30,4 bilhões a favor do Brasil.
Enfim, o parceiro é bom para os negócios. Mas, tem que ser mantido a uma certa distância para não ser engolido por ele. Ou, sair queimado pelo fogo do dragão.