Não tendo conseguido avançar em sua intenção de transformar o Canadá no 51º estado dos Estados Unidos, diante da forte reação da população e de dirigentes canadenses, o presidente Donald Trump começa a colocar em prática outra de suas intenções: tomar a Groenlândia. Conforme anunciado, deve chegar à ilha, que pertence à Dinamarca, entre hoje e amanhã, o vice presidente norte americano J. D. Vance, acompanhado de uma comitiva de altos funcionários do governo, dentre eles o conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Mike Waltz. E a chegada é em termos de deboche, pois Vance disse que vai para se juntar à sua mulher, que já está lá, pois não quer que “ela tenha tanta diversão sozinha”.
Já o presidente Trump foi bem explícito: “Odeio dizer isto, mas vamos ter que tomar posse desse imenso território ártico”. E acrescentou: “Precisamos da Groenlândia para a segurança internacional. Precisamos dela. Devemos tê-la”.
ACORDO
O que chama a atenção mais uma vez é a arrogância do presidente norte-americano e sua aparente falta de percepção em fazer um acordo com um país aliado. Afinal, a ilha pertence à Dinamarca e os EUA já possuem uma base militar em seu território. Não seria apenas uma questão de propor um acordo com a Dinamarca para ampliar tal base e estender pelo território e seu entorno as ações militares que os norte-americanos consideram fundamentais?
Certamente, que o governo dinamarquês, assim como a administração da ilha, não iriam se opor a isto. Iriam cooperar, pois, se é como Trump diz, se trata da segurança da ilha, dos Estados Unidos e do Canadá. Porém, com esta atitude arrogante, estão pisando sobre as autoridades e população, tanto da Groenlândia quanto da Dinamarca. Como se se tratasse de áreas devolutas.
REAÇÃO
Não é sem razão que a primeira ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen, reagiu. “Está claro que não é uma visita que trate sobre o que a Groenlândia necessite ou quer. Portanto, tenho que dizer que é uma pressão inaceitável a que está sendo exercida sobre a Groenlândia e a Dinamarca nesta ocasião. E é uma pressão a que resistiremos”.
Ou seja, a delegação norte-americano, ao invés de encontrar cooperação, encontra rejeição. Não poderiam ter elaborado um estudo mostrando o que consideram perigo, quais as ações que são necessárias desenvolver e apresentar para as autoridades locais e mostrar a elas a importância de uma estratégia de defesa? Isto é o que diz o bom senso, mas, pelo que parece, bom senso não é um atributo do presidente Trump, nem de seu vice Vance e tampouco dos demais membros do governo. Simplesmente, porque não parece ter havido uma pessoa sequer que mostrasse o absurdo dessa forma de agir.
INTENÇÃO
O que pode estar por trás da estratégia de Trump é aproveitar-se da insatisfação dos ilhéus com relação à administração dinamarquesa. E também do desejo independentista dos mesmos. Só que, neste caso, a ilha estaria saindo do domínio da Dinamarca e passando para o domínio dos Estados Unidos. Hoje, a ilha vive da pesca e depende de ajuda financeira do governo dinamarquês.
Sabe-se que existem enormes recursos em minérios, como lítio, grafite, cobre e as chamadas terras raras, composto de 17 minerais de onde surgem os componentes para baterias de celular, carros e computadores. O degelo que está ocorrendo vai tornando possível a exploração desses minerais.
NAVEGAÇÃO
Assim como esse mesmo degelo está abrindo nessa região do Ártico novos canais de navegação. E quem avança com determinação na área é a Rússia. Não podemos esquecer que ao olharmos o mapa mundi percebemos a Rússia e os EUA e lados opostos. No entanto, lá no Ártico os dois países estão muito próximos. A então presidente da Câmara de Representantes, Nancy Pelosi, disse certa ocasião que era possível se avistar a Rússia desde o território norte-americano. Na realidade, ela se referia a ilhas de um e de outro país situadas muito próximas.
E a Rússia tem avançado muito na exploração do Ártico. Tanto que, enquanto os EUA tem um navio quebra gelo, a Rússia tem treze. Fato que, evidentemente, preocupa os EUA, assim como também o Canadá, cujas terras se estendem para mesma área do Ártico. Mas, aí é de se perguntar: por que não estruturar uma estratégia de cooperação com aliados tradicionais, como Canadá e Dinamarca, ao invés dessa arrogância desenvolvida contra ambos os países? O que se percebe é que este é o jeito Trump de administrar.