Durante a década de 1970 prevalecia por aqui uma comparação entre Brasil e Argentina com base na propaganda de uma vodca que dizia: “eu sou você amanhã”. Quando dava uma turbulência econômica na Argentina podia-se esperar que o Brasil também seria atingido logo adiante. Felizmente, este quadro mudou. As economias se estabilizaram. Mas, agora estamos vendo novamente um desequilíbrio no vizinho país. E o pior, fazendo o que o Brasil já fez no passado e não deu certo: congelando os preços. Além de ter que apelar a empréstimo do Fundo Monetário Internacional, o que traz junto um receituário recessivo e de arrocho para a população.
O presidente Maurício Macri foi eleito em 2015 com a promessa de acabar com a inflação, que à época girava em torno de 35% e também de dar um fim na corrupção que campeava pelo país com os sucessivos governos dos Kirchner. Quando à corrupção, parece ter havido uma retração. Mas com relação ao processo inflacionário deu-se o oposto. O acumulado dos últimos 12 meses chega a 54,7%. O dólar disparou. Nesta quinta-feira chegou a bater em 47,50 pesos, mas, devido à interferência do Banco Central, fechou em 45.90 pesos. Segundo o Indec, o IBGE argentino, a pobreza cresceu 6 pontos percentuais em um ano, fazendo com que, hoje, 32% da população esteja abaixo da linha de pobreza e 6,7% são considerados indigentes. Isto para um país que, tempos atrás, se ufanava de ter padrões europeus.
Em dezembro, Macri recebeu 57 bilhões de dólares do FMI. Agora há o temor de um calote porque, segundo o Financial Times, “o custo do seguro contra um calote da dívida argentina subiu ao nível mais alto, consolidando a posição do país como o segundo maior risco do mundo, atrás apenas da Venezuela”. Em entrevista ao La Nación, Macri disse que “a volatilidade financeira é causada pela preocupação de que o kirchenismo retorne” nas eleições de outubro. Ora, depois de tudo que fez, Cristina Kirchner só poderá retornar por um rotundo fracasso de Macri. O que se consolida com o fato de copiar o congelamento de preços que, não só não deu certo aqui no Brasil na década de 1980, como não está dando certo agora na Venezuela. Exemplo caótico que Macri está seguindo. Não é sem razão que Argentina e Venezuela são arrolados como os dois maiores riscos de calote.