A menos de duas semanas de uma reunião de cúpula, o Mercosul enfrenta mais um problema que se constitui em grande entrave nas relações entre seus dois principais membros. O fato de a Argentina ter recorrido à Organização Mundial do Comércio contra o Brasil, não só abala as relações regionais, como demonstra não existir no âmbito do Mercado Comum do Sul um organismo capaz de mediar os conflitos. Aliás, isto já ficara claro em uma outra questão que está abalando a região. Refiro-me ao conflito entre Argentina e Uruguai por causa das “papeleiras”, ou seja, as fábricas de celulose que estão sendo instaladas na cidade uruguaia de Fray Bentos. Embora o Tribunal Arbitral do Mercosul tenha dado uma sentença favorável ao Uruguai, esta foi desconsiderada pela Argentina. O assunto acabou indo parar no Tribunal Internacional de Haia. Onde, diga-se de passagem, houve nova vitória do Uruguai desconsiderada pela Argentina.
Em meio a um conflito que está levando até ao fechamento das ligações fronteiriças entre os dois países, o Brasil, que ocupa a presidência temporária do Mercosul, nada faz. Encolhe-se, como se nada estivesse acontecendo, justo aqui entre seus pares. Assim como se encolhe diante das reivindicações econômicas do Uruguai e do Paraguai, países que, por serem economias pequenas, se dizem prejudicados no comércio entre Brasil e Argentina. Um encolhimento que já está levando ao ponto de uruguaios e paraguaios estarem flertando com acordos bi-laterais com os EUA, algo até há pouco inadmissível para o Mercosul.
Enquanto isto acontece por aqui, a União Européia passa a somar 27 membros, pois conta, desde o dia 1º, com mais dois integrantes, Bulgária e Romênia. Dois países dos mais pobres da Europa do Leste, que fizeram festa por sua entrada na comunidade. Simplesmente, porque sabem que isto representa grande injeção de dinheiro em seus territórios por parte da UE. De imediato, vão receber US$ 53 bilhões para obras de infra-estrutura, voltadas especialmente para o turismo, e renovação da indústria, sucateada desde os tempos do comunismo. Em contrapartida, búlgaros e romenos irão propiciar aos europeus ocidentais o acesso ao Mar Negro, para turismo e negócios. Fatores que, logicamente, estarão ajudando a implementar o crescimento dos dois países.
Este é um dos múltiplos diferenciais entre a UE e o Mercosul. Por aqui os pequenos têm que se virar sozinhos. Recém foi criado um mísero fundo de investimentos da ordem de US$ 80 milhões. Observem a diferença com relação ao que está sendo aplicado nos dois pequenos da Europa do Leste. Por lá, há muito que existe um fundo, que, por sinal, foi o responsável pelo salto de qualidade que deram Portugal e Espanha, até pouco tempo atrás, os dois pobres da Europa Ocidental.
E para finalizar, cabe dizer que lá também tem conflitos, mas estes são resolvidos pelo Tribunal Arbitral, cujas decisões são respeitadas. E a mediação é feita pelo país que está na presidência temporária do organismo. Como está agora a Alemanha, cuja presidente Angela Merkel encontrou uma situação tão tranqüila que resolveu se dedicar a temas externos, como o conflito entre israelenses e palestinos.