Representantes da Rússia e da Ucrânia decidiram se reunir em Istambul para negociar um quase impossível cessar fogo. O encontro foi antecedido de múltiplos ataques de lado a lado. Provavelmente, os mais violentos desde o início da guerra há mais de três anos.
Ambos os países procuravam ir em posição mais favorável para a negociação. Assim foi que a Rússia atacou a capital, Kiev, e, especificamente, uma unidade militar, onde teria matado 12 soldados, além de ferir mais de 20. Já o troco da Ucrânia se estendeu por ampla parte do território russo, chegando até a Sibéria. Na extensão, duas pontes ferroviárias detonadas e um trem derrubado. Porém, o mais contundente foi o ataque com drones que destruí 41 aviões de guerra da Rússia. Sem dúvida, uma humilhação para Vladimir Putin. Ataques que mostraram a vulnerabilidade russa.
VANTAGEM
Até 10 dias atrás a Ucrânia estava em total desvantagem para uma negociação. Sob ataque constante e vendo a perspectiva de perder a sua parte leste, que é o objetivo de Moscou. A situação começou a mudar na terça-feira, quando o novo primeiro ministro da Alemanha, Frederich Merz, autorizou a Ucrânia a usar suas armas, dentro de qualquer parte do território russo. E incrementou-se na quarta-feira, quando o presidente Zelensky foi a Berlim e ouviu de Merz o convite para a produção conjunta de mísseis, por parte da Alemanha e da Ucrânia.
Este foi o maior incentivo para a Ucrânia, ocorrendo não só no momento que antecedia a negociações, como também quando o país ficou privado da substancial ajuda dos Estados Unidos, cortada por Donald Trump.
GUERRA
Para o Kremlin essa decisão da Alemanha representou sua declaração de que entrou na guerra. Não tão contundente quanto à decisão da Alemanha, mas, servindo de mais um substancial apoio para a Ucrânia antes das negociações, foram as manifestações do Reino Unido e da França, no sentido de incrementar o envio de armamentos para Kiev.
É claro que, ao mesmo tempo que essas decisões dão mais poder de barganha à Ucrânia, por outro lado, fazem crescer os temores de uma conflagração mais ampla. E aí não podemos esquecer que teríamos os países da Otan envolvidos, o que significa todos os 32 integrantes da Aliança Atlântica. E até os Estados Unidos estariam na obrigação.
NEGOCIAÇÃO
Fica a expectativa pela negociação de Istambul, a qual, pelas posições dos países em disputa, deixa muito pouca perspectiva de acordo. A Rússia insiste em ficar com a região do Donbas, leste ucraniano, embora ainda não tenha dominado toda ela. E que a Ucrânia não venha a fazer parte da Otan ou ter forças ocidentais em seu território.
A Ucrânia até aceita a não participação na Otan, mas, não abre mão de seus territórios. Os quais, aliás, são garantidos por resolução das Nações Unidas, tomada ao final da Segunda Guerra Mundial, a qual não admite a posse de territórios mediante violência.
DESCRÉDITO
Em entrevista ao jornal espanhol El País, o chanceler da Lituânia, Kestutis Budrys, disse que a posição da Rússia em torno das negociações é puro teatro. Ele conhece bem a situação porque é de um país que viveu décadas sob o tacão de Moscou, forçado que fora a integrar o bloco comunista da União Soviética. E que, tão pronto ruiu o comunismo no leste europeu, tratou logo de passar para o âmbito da Otan para ter proteção.
Para o chanceler, “é mais uma estratégia russa de engano militar do que de vontade de debater com franqueza como terminar a guerra”. E foi mais contundente ao dizer: “Não podemos esquecer que Putin é um ex-agente da KGB, que foi treinado para mentir, interromper ou dilatar qualquer processo de negociação”. E acrescenta que Putin não quer alcançar a paz porque neste momento está em vantagem na guerra.
DESESPERANÇA
Assim, que é sob este panorama que têm-se a reunião de Istambul. Que, embora todo os esforços de mediação do presidente turco Recep Tayyip Erdogan – que transita bem dos dois lados – não há perspectiva de acordo. No primeiro dia das conversações, uma das exigências de Putin é que Zelensky convoque imediatamente novas eleições. O mandato do ucraniano terminou e não é convocada nova eleição porque o país está em estado de sitio. Agora, o curioso é Putin querer pintar de democrata quando todo mundo conhece a forma fraudulenta como ele vem se reelegendo.