Em menos de um mês seis petroleiros foram atingidos por minas marítimas ou torpedos ao cruzarem pelo Estreito de Hormuz, a passagem que liga o Golfo Pérsico (que os árabes chamam de Golfo Arábico) ao Golfo de Omã e dali para o Oceano Índico. Cerca de 40% do petróleo consumido no mundo passa por ali, vindo dos países produtores da região e sendo levado para Europa e América. Por aí se pode dimensionar a importância da passagem marítima e o risco que representa para dar origem a um conflito. Até agora ninguém assumiu a autoria dos ataques aos petroleiros, porém, como tem sido praxe, ultimamente, Estados Unidos acusam o Irã e este acusa aliados norte-americanos.
Esses fatos vêm acontecendo na extensão de conflitos na região. O conflito maior acontece no Iêmen, onde estão diretamente envolvidos o Irã xiita e a Arábia Saudita sunita, em apoio às respectivas correntes religiosas dentro do país. Nesta semana o conflito escorreu dos limites iemenitas com os houthis aliados dos iranianos disparando um míssil contra um aeroporto saudita, ferindo 26 pessoas.
É preciso considerar que as tensões na região aumentaram desde maio de 2018, quando Donald Trump resolveu retirar os EUA do tratado feito para controlar o programa nuclear iraniano. Esse acordo foi firmado em julho de 2015, pelo então presidente Barack Obama, mas não envolveu somente Estados Unidos e Irã. Também foram signatários o Reino Unido, França, China, Rússia e Alemanha. Pelo tratado, o Irã diminuiria em 2/3 o número de centrífugas de enriquecimento de urânio, reduziria em 98% seu estoque de material e as suas instalações passariam a ter funcionamento limitado e sob o controle da Agência Internacional de Energia Atômica. Em troca, os países concordavam em suspender a maior parte das sanções contra o Irã, permitindo ao país acessar aos 100 bilhões de dólares que estavam congelados. Tudo ia bem até que, contra a vontade de seus parceiros, Trump rompeu o contrato e ampliou as sanções ao Irã.
Isto fez a produção petrolífera do Irã cair de 2,5 milhões de barris por dia para 400 mil barris por dia. Em decorrência, por diversas vezes o Irã anunciou que bloquearia o Estreito de Hormuz caso ficasse impedido de exportar petróleo devido às sanções. Até agora não cumpriu a promessa. Mas, especula-se que estaria provocando os incidentes com os petroleiros para forçar os EUA a voltar à mesa de negociações. Porém, pelo perigo que este ato e a guerra no Iêmen representam, pode-se ter é uma nova guerra na região com resultados imprevisíveis. Afinal, a rivalidade ali envolve Irã, que tem o respaldo da Rússia, e Arábia Saudita apoiada pelos EUA.