Todo o mundo civilizado condenou os atos cruéis cometidos pelos terroristas do Hamas contra Israel, a 7 de outubro de 2023, matando e sequestrando pessoas. Todo o mundo também entendeu como natural a reação de Israel na caça aos autores das atrocidades. Como entendeu as ações das forças israelenses na caça e eliminação das lideranças do Hamas. Assim como entendeu as primeiras ações em Gaza.
Só que, gradativamente, as pessoas mundo afora começaram a ver que nessa caça aos terroristas estavam morrendo também muitos civis. E também, de modo gradativo, essas pessoas passaram a ver que as cidades de Gaza estavam virando destroços e junto estavam morrendo contingentes cada vez maiores não só de homens, combatentes ou não, mas também de mulheres, velhos e crianças.
MUDANÇA
Assim, o que era um apoio incondicional a Israel no início das hostilidades foi se alterando. A ponto desta mesma população mundo afora se apavorar com o desespero daquela população que, desde 2 de março, ficara privada da ajuda humanitária, ou seja, água, alimentos e medicamentos.
As imagens se alternando entre pais correndo com um filho ferido no colo em busca de socorro, com as de crianças com uma panela na mão se empurrando para tentar ganhar um pouco de comida, se tornaram chocantes. O mundo se compadeceu e começaram a crescer as críticas, não mais ao Hamas, mas a Israel. Os atuais dirigentes de Israel conseguiram transformar o país de vítima em um vingativo agressor.
EUROPA
De repente, a Europa, tradicional aliada, tomou uma posição unida de condenação dos atos israelenses. A visão tacanha dos atuais dirigentes israelenses levou-os a dizer que a Europa estava defendendo o Hamas.
Uma das consequências, o crescimento do antissemitismo pelo mundo. Até nas universidades do país que é o maior aliado de Israel, os Estados Unidos, surgiram movimentos nesse sentido.
ISRAELENSES
A situação chegou a um ponto tão crítico de, uma figura proeminente de Israel, o ex-primeiro ministro Ehud Olmert, que dirigiu o país de 2006 a 2009, ter sentenciado: “Sim, Israel está cometendo crimes de guerra”. Seu desabafo foi publicado pelo jornal israelense Haaretz, em artigo nesta terça-feira, 27.
“O que estamos fazendo em Gaza agora é uma guerra de devastação: matança indiscriminada, ilimitada, cruel e criminosa de civis”, escreveu Olmert no texto opinativo em inglês, intitulado “Enough Is Enough” (“Já Chega”, em tradução livre). “Não estamos fazendo isso por perda de controle em algum setor específico, nem por algum ímpeto desproporcional de alguns soldados em alguma unidade. Em vez disso, é o resultado de uma política governamental — ditada de forma consciente, perversa, maliciosa e irresponsável. Sim, Israel está cometendo crimes de guerra.”
ORDENS
Destaco ainda uma outra parte do texto, que é longo e profundo. “A posição de figuras importantes do governo é pública e clara. Sim, temos negado aos habitantes de Gaza alimentos, remédios e necessidades básicas de vida como parte de uma política explícita. Netanyahu, tipicamente, tenta obscurecer o tipo de ordens que vem dando, a fim de se esquivar da responsabilidade legal e criminal no devido tempo. Mas alguns de seus lacaios estão dizendo isso abertamente, em público, até com orgulho: Sim, vamos matar Gaza de fome. Como se todos os habitantes de Gaza fossem do Hamas, não há limitação moral ou operacional em exterminá-los a todos, mais de dois milhões de pessoas.”
MILITARES
Na mesma edição do dia 27, o Haaretz publicou detalhes de um documento que teria sido apresentado a militares da ativa e da reserva, e que já teria recebido mais de 1.200 assinaturas. E que, segundo o jornal, diz: “Nós, antigos e atuais oficiais e comandantes da reserva das Forças de Defesa de Israel, exigimos que o governo e o chefe do Estado-Maior parem a guerra política em Gaza e devolvam imediatamente todos os reféns. Continuar a guerra vai contra a vontade da esmagadora maioria do público, resultará na morte de reféns, soldados do Exército israelense e civis inocentes, e pode até levar à prática de crimes de guerra.”
Os militares dizem ainda que o conflito se tornou uma guerra política que “não serve à segurança nacional de Israel e, portanto, é imoral”. “Esta é uma guerra para preparar a ocupação de Gaza e tem como objetivo implementar a visão messiânica de uma pequena minoria na sociedade israelense”, diz o documento, ainda segundo o jornal.
Posições para reflexão daqueles que defendem o atual governo de Israel e seu radicalismo, que coloca a paz mais distante e insufla o antissemitismo.