Estados Unidos e China vêm aumentando gradativamente o tom da confrontação. O conflito se estende da questão tarifária, passa por acusação de espionagem, adoção da tecnologia 5G, origem da pandemia, vai à autonomia de Hong Kong e chega ao domínio do mar do Sul da China. O mais recente episódio envolveu o fechamento do consulado chinês em Houston, no Texas, e a resposta chinesa com o fechamento do consulado americano na cidade de Chengdu, no Sudoeste da China.
Em meio a isto, declarações cada vez mais fortes, especialmente de autoridades norte-americanas. O secretário de Estado Mike Pompeo pediu que seus aliados escolham “entre tirania e a liberdade”. Esta declaração tem por trás o interesse comercial e tecnológico, que envolve a escolha que a maior parte do mundo está fazendo sobre as empresas fornecedoras da tecnologia 5G. E o interesse norte-americano é bloquear a chinesa Huawey, que é detentora da tecnologia mais avançada neste setor. Os EUA sequer tem uma empresa para competir com a mesma. Precisam apostar na sueca Ericsson ou na finlandesa Nokia. Mas usam o argumento de que, com a Huawey, a China estabelece o controle de todas as informações nos países em que atua.
Declaração mais forte, no entanto, partiu do secretário da Defesa Mark Esper, o qual disse que “a China apresenta um catálogo de má conduta com relação a seus vizinhos e os EUA precisam estar prontos para derrotá-la militarmente no Pacífico”. O chefe do Pentágono defende investimentos em armas, como mísseis hipersônicos, e cobra uma participação dos aliados da Ásia, leia-se Japão e Coreia do Sul, países que possuem disputas com a China em águas territoriais. Aliás, é notória a expansão chinesa no mar Amarelo, com o estabelecimento de ilhas artificiais e de bases navais.
Boa parte dos discursos desses integrantes da Casa Branca está inserida no contexto da disputa eleitoral que está em vigência. Dia 3 de novembro tem eleições presidenciais e Donald Trump vem perdendo prestígio, devido à sua péssima conduta no que toca ao controle da pandemia e aos distúrbios raciais. Soma-se a isto a reviravolta que aconteceu na economia, que colocou no desemprego e, por extensão, fora dos planos de saúde, 30 milhões de norte-americanos. Paralelamente, as pesquisas vão mostrando um gradativo avanço do oponente Joe Biden. Então, é aquela velha tática: se internamente as coisas vão mal, cria-se um inimigo externo que una a população em torno de uma causa.
Mas, dentro deste quadro, o que não se pode deixar de considerar é que este jogo se torna a cada dia mais perigoso. A China é hoje um player importante no cenário mundial. Um grande parceiro comercial de muitos países, como o Brasil, que acabam ficando em meio a este fogo cruzado. O qual, pelo menos por enquanto, está só na retórica. Porém, sempre fica o temor de que esta guerra comercial, de repente, escorregue para uma guerra convencional.