Se Donald Trump simboliza a presença de um radical na presidência dos Estados Unidos, John Bolton, como seu assessor para assuntos de Segurança Nacional, simbolizava esse radicalismo ao extremo. Pois, nesta semana, depois de muitos embates e discordâncias, Trump teve que se ver livre do seu assessor, o qual classificou como um “entusiasta por guerras”. Na realidade, se dependesse de Bolton os EUA já teriam atacado o Irã em junho quando a aviação iraniana derrubou um drone norte-americano no Golfo Pérsico. Mas, perto de Bolton Trump é um moderado e não autorizou a ação militar. Trump também se queixava de que a postura intervencionista de Bolton destoava de sua visão de que os EUA deveriam manter distância de atoleiros no exterior.
Há queixas também de que o encontro de fevereiro em Hanoi entre Trump e o norte-coreano Kim Jong-un fracassou por causa das exigências de Bolton. A gota d´água foi uma reunião com representantes do grupo afegão Talibã, que deveria acontecer nesta semana na casa de veraneio do presidente americano, em Camp David. Trump pretendia um acordo para colocar fim a outro atoleiro, à presença militar no Afeganistão, que se estende desde 2002, quando George W. Bush declarou “guerra ao terror”. Bolton inviabilizou a reunião. Aí teve que pegar o boné.
Sem Bolton, teoricamente, os EUA se tornam menos belicistas. Porém, há um agente na região que há tempo é objeto de uma possível ação militar. Trata-se do venezuelano Nicolás Maduro. E este agora resolveu fazer manobras militares junto à fronteira com a Venezuela. Deslocou para lá tanques de guerra, caminhões carregados de mísseis e 150 mil soldados. Tudo por conta de um atrito com a Colômbia, que acusa Maduro de dar guarida a guerrilheiros colombianos, como os integrantes do ELN, Exército de Libertação Nacional, e dissidentes das Farc, liderados pelo ex-número dois da organização Ivan Marques, que anunciou sua volta à guerrilha.
A ação de Maduro, que posou sobre um tanque, nada mais é do que um ato desesperado daqueles dirigentes que não conseguem mais dominar a situação interna de seu país e apelam para um conflito externo como fator de promover a unidade nacional. Só que, Maduro pode estar abrindo sua cova. Os EUA acabam de invocar junto à Organização dos Estados Americanos o TIAR, Tratado Interamericano de Assistência Recíproca, documento assinado em 1947, no Rio de Janeiro, o qual estabelece que se um país membro for atacado por outro, os demais membros sairão em sua defesa. Ou seja, se a Venezuela atacar a Colômbia, será contra-atacada pelos demais. Temos que convir que este é um ato mais para amedrontar Maduro, com poucas possibilidades de se realizar no atual contexto. Mas que teria grandes possibilidades de realização se Bolton ainda estivesse na Casa Branca.