O Irã, com a Revolução Islâmica em 1979 apartou-se do Ocidente. Sob o governo do radical Mahmud Ahmadinejad fora arrolado por George W. Bush no “eixo do mal” juntamente com Coreia do Norte e Líbia. Com a ascensão do presidente Hassan Howani o país enveredou para uma moderação a ponto de conseguir, em 2015, firmar um acordo de controle de seu programa nuclear com Estados Unidos, Rússia, China, França, Reino Unido e Alemanha. Ou seja, as cinco potências com assento no Conselho de Segurança da ONU e a maior potência econômica da Europa. Em decorrência foram levantadas sanções que pesavam sobre o país, com a liberação de dinheiro que estava retido em Nova York. Com isto o Irã viu sua economia crescer 12% no ano seguinte.
O problema do país era que Howani não estava absoluto no poder. A última palavra sempre foi do aiatolá Ali Khameni, o líder supremo. E para este, o número dois não era Howani, mas, o general Qassem Soleimani, responsável pelas ações de cooptação de xiitas no Irã, Iraque, Síria, Bahrein e Arábia Saudita, assim como os thutis no Iêmen e o Hezbollah no Líbano, para ações contra os EUA. Os dois lançaram um projeto de domínio regional que se estendeu de Beirute, passando por Damasco, Bagdá e indo até Sanah.
Donald Trump inteirou-se desses acontecimentos e como não queria dar suporte a um acordo que fora assinado por Barack Obama, retirou os EUA do mesmo e aplicou novas sanções ao Irã, sufocando mais uma vez a economia do país. Os falcões da Casa Branca queriam que ele bombardeasse as instalações nucleares do Irã. Não os atendeu e esperou o momento certo para dar o grande golpe. Estava enfrentando um processo de impeachment e entrando no ano derradeiro da eleição presidencial. E ainda por cima via a possibilidade de dar um impulso na indústria bélica que lhe dá sustentação na campanha eleitoral. Nada melhor, portanto, do que acabar com general Soleimani e expor para o mundo as ações que ele vinha desenvolvendo.
Resta agora ver como ficará a situação no Irã. A tendência é de um avanço nos radicais, que poderão fazer mais cadeiras nas próximas eleições para o Parlamento. O fato mais significativo é que, com exceção dos EUA, as demais potências signatárias querem manter o acordo nuclear. Isto foi enfatizado nesta sexta-feira, em Bruxelas, pelo presidente do Conselho Europeu Charles Michel. E quem está se apresentando como articulador para isto é o presidente russo Vladimir Putin. Afinal, trata-se de um interlocutor com livre trânsito entre todas as partes. E o Irã tem deixado as portas abertas para tal, desde que sejam levantadas as sanções que pesam sobre o país. Assim é que vai se continuar naquela situação de tensão, confrontação e busca de mediação. O mundo civilizado torce para que prevaleça o diálogo.