A retomada de Mossul pelo exército iraquiano, a segunda mais importante cidade do Iraque, com a conseqüente fuga do Estado Islâmico, levanta a questão sobre o fim da organização terrorista. De imediato é preciso dizer que ainda é muito cedo para se falar nisto. O que está desmoronando é o califado, declarado por Abu Bakr Al-Baghdadi, ali mesmo, na mesquita Al-Nuri, em junho de 2014. Mesquita símbolo da corrente sunita do Islã e que foi demolida antes de o EI bater em retirada.
Ao conquistar Mossul, a organização terrorista chegou a ser bem recebida pela população de maioria sunita, pois esta estava sendo alvo de perseguição, desde que os xiitas, com o apoio dos Estados Unidos, se estabeleceram no governo de Bagdá. Os sunitas eram vistos como apoiadores de Saddam Hussein. A população sentiu inicialmente uma espécie de proteção. Algo que foi se diluindo com o tempo, na medida em que os terroristas, não só iam impondo suas leis, como também, iam explorando a população, a ponto de tornar as mulheres escravas sexuais. Fatos comprovados pelo órgão da ONU responsável por avaliar a violência em conflitos. Cabe destacar que assassinatos, extorsão e tortura têm feito parte dos combates entre sunitas e xiitas, com ações de lado a lado.
A retomada de Mossul foi conseguida depois de nove meses de intensa luta, que aumentou substancialmente o sofrimento da população civil. Daí a festa, em meio à destruição, quando a cidade foi libertada. Outras derrotas já haviam sido impostas ao EI pelo exército do Curdistão iraquiano, que se constituiu numa das maiores forças a combater a organização terrorista. A acentuada perda de terreno pela mesma leva ao questionamento sobre o seu fim. Ainda há muitas áreas sob sua dominação, tanto no Iraque quanto na Síria. As quais deverão ser retomadas e, com isto, sendo eliminado o califado. Porém, é preciso ressaltar, a derrota militar não significa o fim da organização como uma difusora da ideologia terrorista. Não só no Oriente Médio. Basta ver os últimos atentados na Europa. Em Londres, Nice, Berlim e Bruxelas, os atos de terror foram praticados por cidadãos dos próprios países, em nome do EI. Muitos deles nem nunca tiveram um contato direto com os terroristas. Este é o terrível legado da organização fundamentalista islâmica.