Quando o presidente ucraniano Volodimir Zelensky resolveu, a 6 de agosto, mudar a guerra para o território russo, invadindo Kursk, o objetivo era fazer com que Vladimir Putin deslocasse para a região invadida as suas tropas que estão na região Donetsk, no leste ucraniano, onde ocupam boa parte do território. Porém, o resultado não está sendo o esperado.
É certo que as forças ucranianas conseguiram humilhar Putin ao realizarem a primeira invasão territorial da Rússia desde a Segunda Guerra Mundial. Mas, na contrapartida, a Rússia não deslocou suas tropas e, pelo contrário, incrementou seus ataques no território ucraniano. A ponto de num só dia, como ocorreu nesta terça-feira, matar 51 pessoas, num ataque com mísseis.
AVANÇO
A constatação é de que, ao se deslocar para Kursk e Belgorodo, onde está conseguindo bons resultados, Zelensky enfraqueceu a defesa do leste ucraniano. Com isto a forças russas estão avançando em três setores da frente de Donetsk. Os russos tem avançado, por exemplo, em direção à cidade de Pokrosvsk, que estava a 23 quilômetros de distância de suas tropas, mas, que agora está a apenas 8 quilômetros. Os russos também mantêm o cerco ao município de Toretsk e começaram o assédio a Vugledar.
Vale lembrar que Vugledar foi palco, em princípios de 2023, de uma das derrotas mais humilhantes de Moscou nesta guerra. O general Rustam Muradov, que comandava a operação, teve que bater em retirada, depois de três meses de combate, que resultaram em um grande número de soldados russos mortos e na perda de dezenas de blindados. Agora, portanto, os russos voltam a atacar a cidade.
OFENSIVA
Segundo a agência AFP, na atual ofensiva a Rússia conquistou a maior área territorial desde finais de 2022. Seriam 477 quilômetros quadrados. O questionamento que é feito é saber até quando os russos conseguirão manter este ritmo de avanço. E mais, se não terão que fazer aquilo que Zelensky pensou que eles iriam fazer, ou seja, deslocar tropas para Kursk. Isto porque a constatação é de que o avanço ucraniano naquela área está se dando conforme o planejado.
Em artigo publicano no Foreign Affairs, dois dos mais destacados analistas de guerra dos Estados Unidos, Michael Kofman e Rob Lee, dizem que “até agora não há evidências de que a ofensiva de Kursk tenha conseguido fazer os russos tirar tropas de outras frentes em que estão atuando”. Pelo contrário, citam o próprio general ucraniano Oleksandr Sirski, que teria admitido que os russos teriam mandado, em 27 de agosto, 30 mil novos reservistas para combater em Kursk. Enquanto que para invadir Kursk Zelesnky teve que deslocar tropas que buscavam evitar o avanço russo em Donetsk.
MUDANÇAS
Assim, o que se tornara um trunfo para Zelensky, o ataque dentro de território russo, acabou se tornando também uma crítica, por debilitar a resistência no leste ucraniano, que é a região que a Rússia pretende anexar. Diante disto, Zelensky resolveu fazer uma reforma ministerial, em busca de uma melhor estratégia para a guerra. Assim, nesta quarta-feira, 11 dos 22 cargos de ministro estavam vagos. Foi detonado até o chanceler Dmytro Kuleba, uma das faces mais conhecidas do governo. Anteriormente, já havia sido demitida outra figura conhecida, o ministro da Defesa Oleksii Resnikov.
Zelensky tem manifestado preocupação com a mudança de estação que se dará dia 22, quando o frio começa a chegar na região e tudo se torna mais difícil. Porém, sua maior dificuldade tem sido convencer os dirigentes ocidentais a autorizar o uso ilimitado de suas armas dentro do território russo. Sabe-se que alguns desses armamentos, de alcance mais limitado, já estão sendo usados. Alguns de alcance não tão limitado, como os drones, pois, nos últimos dias conseguiram alcançar Moscou, onde provocaram fogo em uma usina de eletricidade.
PLANO
Zelensky anuncia que, no final do mês, irá a Washington para apresentar aos dois candidatos à presidência dos EUA o que ele chama de “plano da vitória” na guerra. Antes disto, no entanto, precisa concluir a reforma de seu ministério e definir se vai continuar com a invasão em Kursk e deixar desprotegida a região de Donetsk, ou se tem uma outra estratégia capaz tirá-lo desse impasse.
