Os drones que explodiram em Caracas, enquanto Nicolás Maduro discursava em uma cerimônia militar se constituíram numa tentativa de golpe ou de autogolpe? Esta dúvida paira no ar desde então. O ditador venezuelano acusou de imediato os Estados Unidos, que é o vilão de plantão para ele, e Juan Manoel Santos, o Prêmio Nobel da Paz, que nesta terça-feira deixou a presidência da Colômbia e que não se sabe de que forma poderia estar atuando numa ação dessa natureza.
Dois fatos, no entanto, apontam a autoria do atentado. O que aponta para o golpe vem no comunicado do desconhecido grupo “Movimento Nacional de Soldados de Camiseta”, que chamou o incidente de “Operação Fênix”. A organização se disse composta de militares e civis patriotas dispostos a restabelecer a ordem no país. Essa possibilidade estaria embasada no fato de estar havendo um racha em setores militares, em função do caos a que foi levado o país. Já a possibilidade do autogolpe sustenta-se no fato de Maduro ter declarado que “não haverá perdão” e que os autores sofrerão “castigo máximo”. Ou seja, uma justificativa para aumentar a repressão. Fato que já foi comprovado em seguida com a prisão do jovem deputado oposicionista, de 29 anos, Juan Requesens. Acusado de “homicídio intencional qualificado em graus de frustração” contra Maduro. Foi levado sem ordem judicial segundo o seu pai Guillermo Requensens. Outro deputado oposicionista relacionado ao golpe é Julio Borges, que está refugiado em Bogotá. Antes de ser preso, Requesens fez um enfático discurso na Assembleia Nacional dizendo: “Muitos de nossos irmãos estão saindo do país, muitos estão embaixo da terra porque foram mortos. Você os matou Nicolás”.
Usar o suposto o atentado como subterfúgio para a evasão de venezuelanos e a profunda crise econômica é uma possibilidade que se alimenta nos fatos. Além do contingente significativo que venezuelanos que têm entrado no Brasil, há outro, múltiplas vezes maior, que busca refúgio na Colômbia. E nesta quarta-feira que passou o Equador decretou estado de emergência na fronteira, diante da entrada de 12 mil venezuelanos no espaço de oito dias. Só na terça-feira foram 3.200.
Na economia, o FMI projeta uma inflação neste ano para o país da ordem de absurdos 1.000.000%. E para que se tenha uma pequena noção da perda de poder aquisitivo dos venezuelanos, basta observar o seguinte: um dólar equivale na cotação oficial a 275 mil bolívares. Porém, no paralelo, são necessários 3,2 milhões de bolívares para um dólar. Maduro disse há poucos dias que o país joga gasolina fora, devido a seu preço. E é verdade. Um litro cousta pouco mais de um Bolívar. Assim, com um dólar é possível comprar cerca de três milhões de litros de gasolina.
E, para fechar, só resta falar do calote que acabamos de levar de Maduro. Pelos generosos empréstimos do então governo brasileiro, a Venezuela deveria ter pago em julho 275 mil dólares, o equivalentea cerca de um bilhão de reais. Deveria, não pagou.