Os Estados Unidos e a China vêm travando uma disputa que se torna, a cada dia, mais ameaçadora. Começou com a chamada guerra comercial, com imposições de tarifas reciprocamente, passou para o âmbito da saúde com a questão do coronavirus, e ameaça escorregar para uma guerra convencional, em função de manobras militares em realização. Pode-se agregar ainda a este cardápio a questão, cada vez mais convulsionada, de Hong Kong.
A guerra comercial por parte dos Estados Unidos visa desestruturar a economia chinesa, a qual cresce a passos largos e torna cada vez mais próximo o dia em que sobrepujará a economia norte-americana, tornando-se a número um do mundo. E o avanço chinês se dá não só na sua expansão econômica internacional, com a sua nova Rota da Seda, mas, fundamentalmente, com o desenvolvimento da Tecnologia da Informação e da Inteligência Artificial. Não é sem razão que hoje a chinesa Huawey é a líder mundial em tecnologia 5G, a qual deve revolucionar a área das telecomunicações. Para os EUA, este avanço se dá com base em espionagem industrial, o que não deixa de ser verdade. Mas, o fato é que as empresas norte-americanas da área não estão conseguindo acompanhar a chinesa.
A disputa entre os dois países incrementou-se com a epidemia do coronavirus, em função de o governo de Donald Trump ter responsabilizado a China pela mesma. O que também não deixa de ser verdade, pois, os chineses, no mínimo, foram omissos ao não informar o mundo sobre o que estava surgindo. Esta disputa escorregou para o âmbito da Organização Mundial da Saúde, a qual Trump acusou de atuar pró-China e ameaçou de tirar o seu país do âmbito da mesma. Ainda não saiu, mas já cortou a substancial ajuda anual de 400 milhões de dólares.
Em meio a estas questões, começou nesta sexta-feira o Congresso Anual do Partido Comunista Chinês, onde, entre outras coisas, estará em discussão o futuro de Hong Kong, a província que quer manter sua autonomia e leis próprias. O Congresso já discute uma lei de segurança para Hong Kong. Do South China Morning Post, jornal privado, extraio duas frases: “Trump diz que EUA responderão ‘muito fortemente’ se a China aprovar projeto”. E, “China defenderá firmemente seus interesses se os EUA os ameaçarem, diz autoridade”.
E nesta mesma semana, os EUA anunciaram ter realizado um exercício militar de 32 horas com quatro bombardeiros B-1B sobre o mar do Sul da China, área que Pequim considera sua. Ou seja, a disputa envereda para o lado bélico. E aí é de se perguntar sobre quais as possibilidades atuais de uma guerra? Não são muitas porque, segundo consta, o potencial bélico chinês é muito inferior ao norte-americano. E até por isto, temendo uma invasão do seu oponente, Pequim vem militarizando o mar do Sul da China. Para isto, lançou dos porta-aviões e está produzindo mais dois. Porém, segundo o analista Ygor Gielow, isso não faz frente ao poderio americano, com seus 11 grupos de ataque global via mar e um arsenal nuclear só comparável ao da Rússia. E fecho com o que ele colocou em recente artigo: “Como dissecou o cientista político americano Graham Allison, da Universidade Harvard, no seu já clássico livro “Destinados à Guerra” (2017), em 12 dos 16 momentos de choque entre potências estabelecidas e emergentes nos últimos 500 anos, o resultado foi uma guerra.” Ou seja, hoje não há uma possibilidade mais concreta para a confrontação militar, mas o quadro vai se desenhando para tal.