Está cada vez mais latente o perigo de um confronto entre dois países que não são da primeira linha, mas, que são potências atômicas. Falo de Índia e Paquistão. O Paquistão anunciou há alguns dias que esperava um ataque iminente da Índia. E, neste fim de semana, revelou que estava fazendo exercício com lançamentos de mísseis, os quais, se sabe, são capazes de carregar ogivas nucleares.
Os dois tradicionais rivais brigam desde que se independizaram da Índia, em 1947. A diferença religiosa entre a Índia hindu e o Paquistão muçulmano foi o fator detonador daquele conflito, que se mantém latente até hoje. Em especial, porque restou da ocasião uma disputa territorial em torno da Caxemira, província situada no Himalaia.
ATENTADO
O mais recente episódio envolvendo os dois países ocorreu uma semana atrás, quando militantes paquistaneses atacaram a cidade turística de Pahalgam na Caxemira indiana, matando 26 pessoas e ferindo mais de 30. Um ataque bem determinado porque os agressores pediam a identidade dos turistas e, se viam que era hindu, executavam. Porém, se viam que era muçulmano, o poupavam.
A Índia exigiu que o governo paquistanês investigasse e punisse os assassinos, porém, este não fez nada. A Índia então bloqueou a passagem de água para o Paquistão, com o que ficou latente o temor de uma confrontação. Desde o massacre na cidade turística de Pahalgam, os laços diplomáticos entre os dois países se deterioraram rapidamente. A Índia cancelou vistos, suspendeu um tratado bilateral de compartilhamento de águas (um golpe para a agricultura do Paquistão) e ordenou a saída quase total de paquistaneses do país. A resposta de Islamabad foi fechar seu espaço aéreo para companhias indianas e mobilizar tropas nas zonas de fronteira. Possivelmente, em razão desta situação que o governo paquistanês anunciou que esperava um ataque da Índia. Ou seja, por não ter tomado nenhuma atitude com relação aos terroristas.
CAXEMIRA
A Caxemira, que é a razão do conflito entre os dois países, passou a ser também um fator de disputa entre a Índia e a China. Aliás, os dois países têm travado vários enfrentamentos armados na região nos últimos anos. Como a Índia reivindica a totalidade do território da província, o Paquistão resolveu conceder para a Índia uma parte do mesmo que estava em seu poder. Uma forma de colocar a China a seu lado na luta contra a Índia.
Neste caso, vem a pergunta inevitável: quais as riquezas da Caxemira para ser objeto de tanta disputa? Pois, a região não tem minérios, não tem petróleo, não tem gás e nada mais. Cerca de 80% de sua produção é a agricultura de subsistência. Mas, tem um fator fundamental, a água. Vimos que a Índia suspendeu o compartilhamento de água, que é fundamental para esse contingente paquistanês que tem na agricultura sua subsistência. Ocorre que na região estão as nascentes dos dois grandes rios que dão vida a região: o Ganges e o Indo. E na sequência eles tem afluentes que desaguam no Paquistão.
BOMBA
A Índia tornou-se potência nuclear com o primeiro teste da modalidade, o “Smiling Buddha”, em 1974. Foi no embalo do armamento atômico do tempo da Guerra Fria, embora não fizesse parte de nenhum dos lados. Já o Paquistão, preocupado com o avanço de seu tradicional rival, tornou-se potência nuclear em 1998, com o primeiro teste nuclear, o “Chagai-I”. Ou seja, passou-se a ter três potências nucleares lutando pela Caxemira: Índia, Paquistão e China.
POPULAÇÃO
A estas alturas é de se perguntar também a respeito do que pensa a população da Caxemira. O Conselho de Segurança da ONU tem aprovado diversas resoluções sobre a realização de um plebiscito para a população decidir seu futuro. O Paquistão concorda que os caxemires têm direito à autodeterminação. A China também. A Índia, por outro lado, tem se recusado a reconhecer o direito do povo de decidir seu próprio futuro.
Nos anos 1970/80, os caxemires tentaram todos os meios à luz do conhecimento para obter seu direito à autodeterminação – meios pacíficos, meios parlamentares, movimentos de massa e nada. Em 1989, uma insurgência contra a ocupação indiana resultou num massacre da população local. Agora a população está meio a mais uma disputa entre Paquistão e Índia, da qual ela é quem poderá sofrer as piores consequências.