Uma das questões que têm sido levantadas com maior insistência nos últimos dias é sobre a possibilidade de uma confrontação entre Estados Unidos e Rússia em território da Venezuela. Elementos para alimentar esta hipótese existem de sobra. Senão, vejamos: o presidente Donald Trump segue dizendo que para o caso da Venezuela “todas as opções estão sobre a mesa”. O que equivale dizer que a alternativa de uma ação militar está nas possibilidades da luta por derrubar o regime liderado por Nicolás Maduro. De outra parte, a presença militar russa na Venezuela é cada vez maior. Há sete dias pousaram dois aviões russos em Caracas, um cargueiro Antonov NA-124 levando 35 toneladas de equipamentos bélicos e outro, um Ilyushin IL-62 de passageiros, levando 100 militares, entre soldados, técnicos e autoridades de defesa russa, incluindo-se o general Vasily Tonkoshkurov, diretor do alto comando das Forças Armadas russas.
O desembarque ocorreu três meses após a realização de exercícios militares conjuntos entre venezuelanos e russos em território da Venezuela. Tudo isto acontecendo em um país que tem uma das maiores reservas internacionais de petróleo, senão a maior. E se formos analisar o que tem sido o fator detonador de guerras nos últimos tempos, chegamos facilmente ao petróleo. Nesta quarta-feira, ao receber na Casa Branca Fabiana Rosales, mulher do presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Juan Guaidó, que é reconhecido por mais de 50 países como presidente interino da Venezuela, Trump disse que a Rússia deve retirar suas tropas da Venezuela e referendou que “todas as opções estão abertas”. Os EUA vêm impondo sanções contra a Venezuela e, especialmente, à estatal petrolífera PDVSA. E Trump anunciou para 28 de abril um embargo às exportações venezuelanas de petróleo.
Porém, com todo este cenário há que se considerar que, desde a crise dos mísseis em Cuba, em 1962, que quase gerou uma confrontação nuclear, Washington e Moscou têm respeitado as respectivas hegemonias territoriais. Assim passou a acontecer em todas as intervenções militares que os EUA fizeram na América Latina e que Moscou não intrometeu. Bem como nas ações de Moscou, como as intervenções na Hungria, em 1956, e na então Tchecoslováquia, em 1968. Mais recentemente tivemos o caso da Ucrânia que, ao debandar para o Ocidente, viu a Rússia tirar-lhe a província da Crimeia e dar apoio aos separatistas do leste ucraniano. E os EUA não fizeram nada. Assim é que a história recente mostra o cumprimento do acordo, o que afasta a possibilidade de confronto entre EUA e Rússia na Venezuela. O detalhe é que a História não é linear e acordos muitas vezes quebrados.