Donald Trump chegou aos Estados Unidos se vangloriando ao dizer que, em decorrência da reunião que teve com o líder norte-coreano Kim Jong-un, evitou uma catástrofe nuclear. Ora, este encontro só aconteceu pela determinação do presidente da Coreia do Sul, Monn Jae-in e pelo poder do presidente da China Xi Jinping. Ambos intercederam junto a Kim para que parasse com os testes nucleares e fosse para uma mesa de negociação, sob pena de seu país ficar cada vez mais isolado. A resposta de Kim a esses apelos veio no seu discurso de passagem de ano, quando, manteve a ameaça a Trump dizendo que ainda tinha o botão nuclear, mas, decidira “estender a mão para os irmãos do sul”. E para Trump os dois líderes mostraram o que seria o custo, monetário e em vidas, de uma guerra nuclear.
Foi aí que abriu-se o caminho para esta reunião, que acabou com uma declaração de quatro pontos, onde o principal é o terceiro, o qual fala que “a Coreia do Norte se compromete a trabalhar em direção à completa desnuclearização da península coreana”. Ou seja, não há uma promessa de Kim de desnuclearização, mas, de trabalhar para tal. O que significa que o fim ou o congelamento do programa nuclear dependerá das negociações que forem desenvolvidas daqui para a frente. Negociações que venham, evidentemente, atender aos interesses do norte-coreano.
Em troca de sua vaga promessa, Kim já ganhou a decisão de Trump de acabar com os exercícios militares conjuntos com a Coreia do Sul. Decisão tomada sem aviso prévio aos principais aliados da região, Coreia do Sul e Japão. E, de adendo, Trump ainda fez um agrado a Kim dizendo que tais exercícios eram provocadores e custavam caro. Resumindo, Trump fez concessões sem receber nada em troca. Enquanto isto, China e Rússia já aliviaram as sanções econômicas contra Pyongyang. Restou para Trump dizer que só levantará suas ações quando ver cumprida a promessa de desnuclearização.
Resta ainda fazer uma observação. Qual a razão de Trump se abrir tanto para a Coreia do Norte e, na contramão, ter denunciado o acordo feito por seu antecessor Barack Obama, mais Reino Unido, França, Alemanha, China e Rússia, em torno do programa nuclear do Irã? Sendo que, de acordo com a Agência Internacional de Energia Atômica, órgão da ONU, Teerã vinha cumprindo os ditames do acordo. Conclusão: ao fazer o encontro com Kim e badalar que evitou uma catástrofe nuclear, o que Trump está querendo mesmo é ganhar o Nobel da Paz.