A União Europeia foi constituída para superar os nacionalismos extremados e a xenofobia que levaram o continente a duas grandes guerras, com destruição generalizada e milhões de mortos. Um processo que foi sendo construído gradativamente, até chegar ao ponto de os integrantes do bloco terem uma moeda única e poderem circular e trabalhar livremente em qualquer um dos países membros. Países que faziam parte da União Soviética bandearam para o bloco depois que o comunismo ruiu no Leste. A organização chegou a ter 28 membros. Porém, em junho de 2016, a situação começou a mudar. O Reino Unido votou em plebiscito pela saída.
Foi o primeiro grande desfalque, conseqüência, em boa parte, de um fator que vem se acentuando nos últimos anos: a maciça chegada de migrantes, fugindo dos conflitos do Oriente Médio e da África, ou mesmo das secas. Soma-se a isto, a crise que se abateu no mundo a partir de 2008, que fez diminuir os empregos e baixar o poder aquisitivo da população. Por toda a parte começaram a ressurgir os movimentos nacionalistas, a xenofobia e até o nazismo. Os partidos de extrema direita aumentaram substancialmente suas representações nos parlamentos dos mais diversos países. Na França, Marine Le Pen, do Partido Nacional, se tornou uma forte concorrente à presidência do país.
Esta situação levou o jornal Le Figaro desta quinta-feira (20) a comparar o bloco a um “pião batendo contra paredes, incapaz de encontrar um caminho para sair da tempestade”. “Impotente, a Europa assiste ao fim de dois mundos: o do pós-1945 e o do fim da Guerra Fria, que haviam, até então, garantido a segurança e a prosperidade”, escreve a jornalista Isabelle Lassere. A saída do Reino Unido foi considerada uma traição. Daí as dificuldades para um acordo sobre o Brexit. Traição também está sendo vista a praticada pelo norte-americano Donald Trump, que retirou seu país do acordo sobre o clima, denunciou o acordo sobre o programa nuclear do Irã e se contrapôs ao processo de globalização, ao taxar a entrada de produtos nos EUA. E como se não bastasse, iniciou uma guerra comercial com a China, que está elevando o preço dos produtos no mercado internacional.
Desprotegida do “guarda-chuva” norte-americano, a Europa vê crescer a força e as ações do russo Vladimir Putin, que acaba de firmar uma aliança com o turco Recep Tarip Erdogan e com o iraniano Hassan Rouhani. Assim como cresce também no cenário internacional a China de Xi Jinping. Os próximos golpes são esperados para março de 2019, com a confirmação do Brexit, e maio, com as eleições para o Parlamento Europeu.