Ao conceder o salvo conduto para que Edmundo González buscasse asilo na Espanha, a vice-presidente da Venezuela Delcy Rodriguez disse que a decisão fora tomada em “em nome da paz e da tranquilidade política”. Já a deduzir-se pelas palavras daqueles venezuelanos que, no último fim de semana, resolveram deixar o país e migrar para o Brasil, “a miséria e a repressão vão aumentar no país”.
A ditadura espera que, com a saída daquele que a maior parte dos países reconhece como vencedor da eleição de 28 de julho, os protestos venham a terminar. E para isto tem-se esmerado em aumentar a repressão que, segundo a organização Human Rights Watch, envolve a Guarda Bolivariana, a Polícia e as milícias armadas pelo regime. Contando ainda com a ação dos defensores do regime, que costumam denunciar os que votaram em González para que também se tornem alvo da repressão.
ETAPA
A saída de González do país se constitui na primeira etapa da ação do governo de Maduro para assumir o seu terceiro mandato em janeiro próximo. Um segundo passo, seguramente, será calar Maria Corina Machado, a principal líder oposicionista. Aliás, surpreende o fato de ela não ter saído junto com González. Tendo ficado segue correndo risco de vida. Ela segue sendo uma figura ameaçadora para a ditadura. Basta ver a força que ela teve ao ser inviabilizada pelo sistema de concorrer na eleição de 28 de julho e, em pouco tempo, ter passado todo o seu prestígio eleitoral para um diplomata que era praticamente desconhecido no setor eleitoral do país.
Impressiona a determinação de Maria Corina em continuar sua luta, apesar dos revezes que lhe vem sendo impostos pelo regime. Ela lançou uma mensagem nas redes sociais em que tenta manter a mobilização. “Em 10 de janeiro, o presidente eleito Edmundo González Urrutia será juramentado como presidente constitucional da Venezuela e comandante em chefe das Forças Armadas Nacionais. Que isto fique bem claro para todos: Edmundo lutará desde o exterior junto com nossa diáspora e eu seguirei lutando aqui, junto com vocês”, disse ela.
FIGURAS
Nessa diáspora que Maria Corina fala estão Henrique Capriles, que concorreu com Maduro na eleição anterior e Leopoldo Lopez, figura de expressão da oposição que também teve seus direitos políticos caçados. Vivem na Espanha, onde passaram a ter a companhia de González.
Mas não são somente as grandes figuras da política fogem do país. O contingente de cidadãos segue aumentando e já está próximo de 8 milhões. Segundo matéria publicada nesta segunda-feira pela Folha de S. Paulo, desde o impasse das eleições, o contingente de venezuelanos que entram pela Brasil através de Pacaraima passou de 300 para 600 pessoas dia. O que faz deduzir que sejam em torno de 18 mil por mês.
EMBAIXADA
Enquanto as autoridades brasileiras tentavam controlar o significativo aumento no fluxo de venezuelanos para o Brasil, o governo brasileiro buscava controlar mais um desatino do governo Maduro, que exigiu o afastamento da representação brasileira junto à embaixada da Argentina em Caracas. Vale lembrar que desde que Argentina e Venezuela romperam relações, com expulsão recíproca de embaixadores, o Brasil ficou com a guarda da representação diplomática argentina. Em mais um ato de total desconsideração para seu defensor Lula da Silva, o ditador Maduro mandou cercar militarmente a embaixada argentina, onde se encontram refugiados seis venezuelanos, entre eles o chefe de campanha de González. E não foi uma ação de Lula, mas justo a notícia da ida de González para a Espanha que fez Maduro levantar o cerco.
ALIANÇA
O que se percebe é que Maduro está arraigado ao poder. E, em que pese as manobras de seus aliados Lula e Gustavo Petro, da Colômbia, o ditador nem cogita aceitar alguma das sugestões que lhe são oferecidas. E este apego ao poder de Maduro se daria não somente para ter o poder pelo poder, mas, por causa das alianças que ele formou. Há muitas acusações de que na Venezuela foi feito um conluio entre Maduro, as Forças Armadas e o narcotráfico. Falando no fim de semana com um venezuelano que decidiu migrar para o Brasil, ele foi taxativo ao dizer que o comprometimento de Maduro com o narcotráfico não o permite deixar o poder. Se ele romper a aliança, simplesmente, será assassinado. Conhecendo-se a força que assumiu o narcotráfico na América Latina, não é de se duvidar.