Nem o norte-coreano Kim Jong-un, nem o sul-coreano Moon Jae-in e muito menos o norte-americano Donald Trump. Nenhum deles foi contemplado com o Prêmio Nobel da Paz, embora fossem os favoritos apontados pelas bolsas de apostas. Mais uma vez, figuras desconhecidas do cenário internacional conquistam o cobiçado troféu. A ativista iraquiana da minoritária religião yazidi Nadia Murad e o médico ginecologista congolês Denis Mukwege foram os ganhadores. Saliente-se, figuras desconhecidas para o grande público, mas, não para entidades que tratam de direitos humanos.
Em primeiro lugar, méritos para a Academia Sueca, que não se deixou levar pelas badalações internacionais da área política, mas foi buscar nos escombros das guerras no Iraque e na Síria, onde o Estado Islâmico teve presença marcante, uma personagem que teve a coragem de liderar um movimento feminino, dentro de um ambiente totalmente machista, denunciando para o mundo as atrocidades que sofrera e que continuam sofrendo muitas de suas parceiras tornadas escravas sexuais. Assim como buscou na República Democrática do Congo, que de democrática não tem nada, a figura de um médico que, em 1999, abriu uma clínica que atende milhares de mulheres todos os anos, muitas das quais necessitam de cirurgia após violência sofrida. Os abusos cometidos por grupos armados no congo já fizeram cerca de 5 milhões de pessoas deixar o país, indo buscar refúgio em países vizinhos. Aliás, em outro país da região, a Nigéria, o grupo radical Boko Haran seqüestrou cerca de 200 meninas, há quatro anos, sendo que a maior parte delas ainda não voltou para casa.
Outro aspecto positivo da destinação do prêmio é que ajuda a reforçar movimentos que surgem pelo mundo de denúncias contra agressões sofridas por mulheres. O caso de maior repercussão hoje é o que envolve a indicação do juiz Brett Kavanaugh para a Suprema corte dos Estados Unidos e a denúncia que foi feita contra ele pela professora Christine Blasey Ford. Uma agressão dos tempos em que eram adolescentes, o que deu motivo para que muitas pessoas contestassem: por que só agora esta denúncia, 36 anos depois do fato. Ao que uma defensora dos direitos das mulheres retrucou, dizendo que só as mulheres sabem o quanto fica remoendo um acontecimento dessa natureza. Por isto, nunca é tarde para fazer uma denúncia. A diferença é que no país em vive Christine esse crime pode ser punido, porém, onde vivem Nadia e Denis não se vê a mínima perspectiva.