Dois fatores contribuíram decisivamente para o crescimento dos partidos de direita na Europa: a crise de 2008, que começou nos Estados Unidos e se abateu forte sobre o continente, e a leva de refugiados que começou a chegar a partir de 2015. Estes dois fatores fizeram se expandir posições como as defendidas pelo mais novo astro da extrema-direita européia, a AfD, Alternativa para a Alemanha. A legenda é contra a construção de novas mesquitas no país e usa, com frequência, a frase “O Islã não pertence à Alemanha” em suas campanhas. E tem atraído votos daqueles que pedem a saída da Alemanha da União Europeia. Fernando Alcoforado, que é doutor em Planejamento Territorial pela Universidade de Barcelona, detalhe o sentimento da extrema direita na Europa: “Com inclinações nazifascistas ou nacionalistas, a maioria defende o fim da União Europeia, o fim do euro, o fortalecimento da unidade e identidade dos países, políticas mais radicais contra imigrantes, criticam o resgate financeiro de países em crise, são contra direitos de homosexuais, aborto, liberalismo e globalização, e combatem o que chamam de islamização”.
As principais legendas de extrema direita hoje na Europa são, a AfD na Alemanha, Partido dos Verdadeiros Finlandeses, na Finlândia; Aurora Dourada, na Grécia; Partido da Independência do Reino Unido (UKIP); Frente Nacional, na França; Partido da Liberdade da Áustria; Jobbik, na Hungria; Partido Popular da Dinamarca; PVV, Partido da Liberdade, na Holanda. Todos eles cresceram e alcançaram maior representatividade em seus respectivos parlamentos, graças a estas novas idéias. O mais recente e marcante exemplo é o da Alemanha, onde a AfD não só rompeu a cláusula de barreiras de 5% dos votos, como chegou aos 13%, colocando 89 representantes no Parlamento. Na França, Marine Le Pen, da Frente Nacional, chegou ao segundo turno da eleição presidencial vencida por Emmanuel Macron. Na Holanda, o líder do PVV, Geert Wilders, esteve na iminência de se tornar primeiro-ministro. Não levou, mas o seu partido conquistou mais cadeiras. Na Áustria o PL perdeu a eleição presidencial por menos de um ponto percentual. Apesar de a presidência da Áustria ser um cargo de caráter amplamente cerimonial, Norbert Hofer seria o primeiro líder da extrema direita a se eleger chefe de Estado na União Europeia no pós-guerra.
O efeito pós-guerra levou os alemães a uma retração. Depois da Segunda Guerra Mundial, celebrar ou mesmo definir a identidade alemã se tornou tabu, e muitas vezes era visto como um passo na direção do nacionalismo que permitiu a ascensão dos nazistas. A atitude mudou um pouco com a Copa do Mundo de 2006, quando os anfitriões alemães hastearam suas bandeiras com orgulho e celebraram sua nacionalidade. Porém, agora, quando o país está sendo o sustentáculo financeiro dos seus parceiros endividados da UE, como Grécia e Portugal, e quando Angela Merkel abriu as portas para a chegada de mais de um milhão de refugiados, os valores defendidos pela extrema-direita voltaram a aparecer. Na esteira do que está acontecendo na maior parte da Europa.