Uma ofensiva relâmpago, desenvolvida ao longo de dez dias, chegou a Damasco e destituiu uma ditadura que estava há mais de 50 anos no poder na Síria. Imediatamente, o povo foi para as ruas gritando “liberdade”. E muitos que haviam fugido do regime, especialmente, da guerra civil travada nos últimos 13 anos, se apressaram em voltar ao país. Tudo isto ocorre em meio a uma indagação: qual será o futuro do país.
Sabemos que não será uma democracia que irá se instalar. Será uma nova ditadura, muito possivelmente comandada por Abu Mohamed Al-Jolani, o líder da revolta que, após concluí-la preferiu passar a ser chamado por seu próprio nome, Ahmed Al-Sharaa.
PERFIL
Al-Sharaa está à frente do HTS, Hayat Tahir Al-Sham, cuja tradução é Organização para a Libertação do Levante. Uma dissidência da Al Qaeda, organização que inspirou Al-Sharaa e da qual ele se separou em 2016, criando o seu próprio grupo dissidente.
Procurou travestir-se de moderado, abandonando o turbante e adotando o traje militar. Com o que, por sua fisionomia e seu porte, ficou parecendo muito com Fidel Castro do início da revolução cubana. O detalhe é que, para governar, embora se tratando de uma ditadura, ele terá que fazer uma aliança com os vários grupos que pegaram em armas, para apoiá-lo na missão. Os sintomas são de que vem um regime fundamentalista islâmico por aí.
APOIO
Não se faz uma operação da natureza desta que acaba de ser concluída sem um grande respaldo financeiro e bélico. Pois, quem abertamente deu apoio ao grupo foi a Turquia de Recep Tayyp Erdogan. Que, por sinal, está sendo cobrado no sentido de assegurar a moderação de Al-Sharaa.
Mas, não foi só a Turquia. As monarquias do Golfo Pérsico também apoiaram. E aí se somam Emirados Árabes Unidos, Arábia Saudita, Bahrein, etc. O que une todas essas partes é a corrente religiosa. Neste caso, são todos sunitas. Que se contrapõem aos xiitas do Irã, Iraque, Hezbollah, etc. Ou seja, aqueles que saíram derrotados junto com Bashar Al-Assad, o ditador deposto.
ISRAEL
Lógico que quem acompanha tudo com muito interesse é o governo de Israel. E foi justamente o enfraquecimento que as forças israelenses provocaram no Irã e no Hezbollah, que ajudou na derrota de Assad. Somando-se o fato de a Rússia, o outro apoiador do regime deposto, estar envolvida com a guerra na Ucrânia. Detalhe curioso é que a Rússia diz já ter garantido com o novo regime a manutenção na Síria de suas 21 bases e 81 postos avançados no território. Isto deixa uma indagação sobre o que será feito quando a Rússia quiser usar uma dessas bases.
Porém, o certo é que Israel vê ser exterminado um regime inimigo que lhe fazia fronteira, ao mesmo tempo em que vê enfraquecer-se também o Irã e o Hezbollah. E se o novo regime sírio primar mesmo pela moderação e pela aliança com as monarquias sunitas do Golfo, isto poderá ajudar na retomada dos Acordos de Abrahão, que resultaram na assinatura de acordos de paz com Israel porte dos Emirados Árabes Unidos, Bahrein, Sudão e Marrocos. Arábia Saudita estava na fila, mas, parou em função do ataque do Hamas a Israel.
FUTURO
Os Estados Unidos que, durante vários anos mantiveram bases na Síria para lutar contra o Estado Islâmico, ainda mantêm 900 soldados em pequenas bases como o campo petrolífero de Al-Omar e Al-Shaddadi, no nordeste do país. E a propósito, existem hoje 9 mil membros do Estado Islâmico presos na Síria. E a indagação é se o HTS, que tomou o poder, vai soltá-los. Afinal, há uma afinidade entre os dois movimentos.
O fundamental a considerar neste momento é que o HTS não está sozinho. Tomou o poder com o apoio de vários outros movimentos rebeldes. E assim será necessária uma composição para governar. Mas, todos eles têm em comum a defesa do fundamentalismo islâmico. Com o que, corre-se a possibilidade de a Síria se transformar num novo Afeganistão.
FESTA
Hoje, tudo é festa na Síria. É o povo nas ruas comemorando. Não se pode esquecer, no entanto, o que aconteceu na Líbia, quando Muhamar Khadafy foi deposto, assim como no Iraque, quando Saddam Hussein foi destituído. Em ambos os países houve festa do povo nas ruas. E hoje? Como está a situação?….