A terrível explosão desta terça-feira no porto de Beirute trouxe novamente para os noticiários o Líbano, país de uma maravilhosa história milenar, que sofreu uma transformação profunda nos tempos atuais, sendo levado a uma guerra civil que durou 15 anos, mas, também, um país que tem profundas ligações com o Brasil. Falar do Líbano é referir-se a uma civilização de 3.000 anos antes de Cristo, chamada Fenícia que ficou famosa pela navegação e pelo comércio. Os barcos fenícios, com um tipo de vela que os caracterizava, levavam para os parceiros comerciais do Mediterrâneo, óleo, vinho, madeira e uma tinta que produziam a partir de um molusco. Tiro, Sidon e Biblos, cidades ainda hoje existentes, eram seus grandes centros da época e que proporcionaram aos seus hábeis navegadores criarem entrepostos pelo Mediterrâneo, como na ilha de Chipre, no Norte da África, em Cartago e na península Ibérica, em Cádiz. Aos fenícios é atribuída a invenção da escrita alfabética que deu origem aos atuais alfabetos, grego, romano, cirílico e arábico.
No salto para o século XX, o Líbano esteve sob o domínio do Império turco Otomano, até a derrota deste na Primeira Guerra, quando então passou a ser colônia francesa. Cresceu, adquiriu sua independência, como os demais países da região, e Beirute, por seu desenvolvimento, comércio e finanças, passou a ser conhecida como a Paris do Oriente Médio. No último quarto de século, porém, o país foi levado à guerra civil, que durou de 1975 a 1990, provocando morte, destruição e acirramento da rivalidade entre os diversos grupos étnico-religiosos que o compõe. Só para se ter uma idéia, hoje o Parlamento de 128 membros é dividido em 64 cadeiras para muçulmanos e 64 para cristãos. Com as seguintes subdivisões: muçulmanos ficam com 27 para xiitas, 27 para sunitas, 8 para drusos e 2 para alauítas. Os cristãos, maronitas 34, ortodoxos gregos 14, católicos bizantinos 8, ortodoxos armênios 5, católicos armênios 1 e protestantes 1. E nesse Parlamento há uma representação do Hezbollah, o Partido de Deus, organização guerrilheira xiita sustentada pelo Irã e considerada terrorista por EUA e Israel. Por aí se pode perceber a dificuldade para administrar. Os anos 2.000 trouxeram queda brusca na economia. Em oito meses a moeda desvalorizou-se em 80%. E incrementou-se outro mal: a corrupção. Que parece estar presente no acobertamento do material explosivo detonado na terça-feira.
Toda essa situação tem feito muitos libaneses migrarem. O Brasil tem sido um destino. Mas este destino não é novo. O caminho foi aberto por D. Pedro II ao visitar o Líbano, em 1876, acompanhado de sua esposa Tereza Christina e de uma comitiva de 200 pessoas. Ele abriu as portas do Brasil aos libaneses, o que faz com que hoje a população do Líbano seja de 5 milhões e os libaneses e seus descendentes no Brasil somem cerca de 10 milhões.