Há uma expressão que diz que, depois que a pessoa morre, todos passam a falar bem dela. No caso do Papa Francisco, as acusações por parte de setores da direita política eram de que ele era de esquerda. Canhoto ou até comunista eram os adjetivos. Uma vez o papa falecido, não se ouviu mais este tipo de colocação. Todos passaram a falar bem do pontífice.
Na realidade, o Papa Francisco conseguiu mudar o foco da Igreja Católica e voltar-se para a periferia, para as minorias, para os discriminados, etc, mas, sem deixar de lado o conservadorismo.
MUDANÇA
Seu mérito foi perceber as mudanças que estão ocorrendo no mundo, no que toca a costumes e ao respeito às diferenças existentes entre as pessoas. E, em especial, ao respeito aos direitos de cada um. Assim é que, um dia antes de morrer, Francisco recebeu no Vaticano o vice-presidente dos Estados Unidos J. D. Vance e cobrou dele o respeito aos imigrantes no território americano. E, em seguida, na sua mensagem Pascal, condenou “o desprezo para com os mais débeis, os marginalizados e os imigrantes”.
Pensamentos esquerdistas? Não, posição de quem se preocupa com o ser humano. E esta preocupação está ligada ao caráter da pessoa, não ao seu pensamento político. Afinal, respeitar, por exemplo, os direitos dos gays, como o papa pregou, deve ser uma preocupação de qualquer pessoa, independente de sua posição política.
PERIFERIA
Talvez por ser um Papa do “fim do mundo”, como foi dito quando ele foi eleito, Francisco conseguiu fazer com que merecessem atenção da Igreja Católica os latino-americanos, os africanos, os asiáticos, etc. Aliás, há quem diga que, em função disto, é possível que o próximo papa seja um africano. Ou seja, um negro à frente da Igreja. Assim, depois de um latino-americano, seria a vez de um africano.
Isto vai depender da influência que Francisco conseguiu exercer dentro do colégio cardinalício, que é quem terá a tarefa da sucessão, para manter ou não as reformas em andamento.
CONSERVADOR
De outra parte, o papa foi muito conservador no que toca a dois assuntos que há muito vem sendo discutidos no âmbito da Igreja: a ordenação de mulheres como sacerdotes e o casamento dos padres. Ou, mais especificamente, a manutenção ou não do celibato.
Sinceramente, num momento em que a mulher expande suas atividades nos mais diversos setores de atividades, não vejo porque não assumir o sacerdócio. Hoje, estamos acostumados a ver mulheres auxiliando o padre na cerimônia da missa. Estão ali como que clamando por este direito.
CELIBATO
O que vou escrever a seguir, sei que irá chocar muitas pessoas e serei alvo de reações as mais diversas, muitas delas extremadas. No entanto, preciso dizer que a manutenção do celibato dos padres é uma das coisas mais absurdas que existe. Contraria a natureza humana que Deus nos deu. O sexo e seu decorrente prazer é uma coisa inata da pessoa. Reprimir este prazer significa, em muitos casos, levar essas pessoas a perigosos desvios de conduta.
E aí, para eu ser alvo de mais ataques, cito a questão da pedofilia. Quantos casos temos tido mundo afora de padres envolvidos em pedofilia. São aqueles que, não tendo como dar vasão, vão se valer de crianças indefesas para satisfazer seu prazer sexual. E aí vem outra pergunta: qual é a única Igreja em que o padre não pode casar? Resposta óbvia, Igreja Católica. E, em decorrência, qual é a única Igreja que tem seus sacerdotes acusados de pedofilia? Não preciso responder. É chocante, mas é verdade. Espero que o tema não mereça apenas raivosas contestações, mas, reflexões sobre o mesmo.
LEGADO
Vale lembrar que o Papa Francisco aprovou um plano de três anos para a Igreja Católica, que visa discutir e implementar reformas em um novo ciclo sinodal, com o objetivo de construir uma igreja mais sinodal, participativa e missionária. Este plano, que culminará em uma assembleia eclesial no Vaticano em outubro de 2028, é uma continuidade do Sínodo sobre a sinodalidade que foi realizado em 2024.
As reformas a serem discutidas incluem questões como a ordenação de mulheres como diaconisas, o acolhimento de fiéis LGBTQIA+, a reorganização da formação de padres, o maior envolvimento dos leigos, inclusive na seleção de bispos, e a maior independência das conferências episcopais. O plano prevê um período de três anos de consultas com os católicos de todo o mundo, com o objetivo de ouvir suas opiniões e sugestões. Sei que não farei parte dos católicos a serem consultados, mas, a minha sugestão está dada.