A questão sobre a posse de um pequeno arquipélago no mar da China Oriental está levando a uma tensão cada vez maior entre China e Japão. Já houve casos de incêndio de empresas japonesas estabelecidas na China e nesta segunda-feira empresas como Panasonic, Nissan, Honda e Toyota decidiram suspender suas atividades em território chinês, temendo ações violentas. E nesta terça-feira, a China enviou onze navios para as ilhas.
O que está em disputa são as ilhas que os japoneses chamam de Senkaku e os chineses de Diaoyu e que estão em posse nipônica. Para argumentar sua posse sobre o arquipélago, a China usa documentos históricos chineses, o mais antigo data da era Ming, em 1556. Naquela ocasião, o país definiu uma área de linha de defesa contra piratas, e neste incluiu as ilhas Diaoyu. No mapa criado nessa época, Diaoyu constou como um arquipélago da região costeira de Fujian. Em documentos da mesma época, registros de emissários do governo chinês que viajavam para Ryukyu (atual província de Okinawa) mostram que para eles, as ilhas Diaoyu eram a fronteira com o mar de Ryukyu. Pequim também usa um mapa de 1785, de autoria de Shihei Hayashi, que descreve essas ilhas como território chinês.
As ações do Japão são mais recentes e estão ligadas aos conflitos regionais. Assim, em 1881, o Japão definiu o arquipélago como parte da província de Okinawa, que fora tomada em 1879, mas só a anexada oficialmente em 1895, durante a guerra sino-japonesa, travada em 1894-95. Este final de século 19 e início do século 20, marcou um período de expansão do Japão, que travou também uma guerra com a Rússia, em 1904, e estabeleceu seu domínio sobre a Manchúria, a Coréia e a ilha Sakhalina. Em 1937, a China, que já vinha sofrendo incursões japonesas, é invadida em grande escala, numa sequência de ações consideradas de extrema violência, que se estenderam até 1945, e onde foram mortas mais de um milhão de pessoas. O Japão é acusado de massacre de civis, estupro em massa e guerra química e biológica. A situação só se modificou com a derrota do Japão na Segunda guerra Mundial. Na ocasião, foi definido que o Japão deveria devolver todos os territórios ocupados militarmente. Foi então que a China reivindicou a posse das ilhas. Porém, depois da Segunda Guerra, as ilhas – como todo o território japonês -, ficaram sob o controle dos EUA, que as entregaram ao Japão, em 1971. As ilhas se tornaram propriedade particular de uma família, que as vendeu, no início de setembro último, ao governo do Japão, pelo equivalente a 52 milhões de reais. Foi esta operação que motivou a revolta, não só de Pequim, mas também de Taiwan, que também reivindica posse sobre o arquipélago. A ação do governo japonês foi justificada como uma antecipação ao que poderia ser feito pelo prefeito de Tóquio, o ultranacionalista Shintaro Ishihara.
A disputa pelas ilhas ganhou conotação diferente a partir de 12 de outubro de 1968, quando a Ecafe (United Nations Economic Commission for Asia and the Far East) iniciou pesquisas submarinas na região, constatando que a mesma é rica em gás e petróleo. Sem contar a pesca, que já é abundante na área. Ou seja, o interesse básico está no produto que tem sido a causa das mais recentes guerras. O que ameniza o conflito é a questão comercial entre os dois países. O comércio bilateral bate nos US$ 350 bilhões, envolvendo a segunda e a terceira maior economia do mundo. O Japão é o segundo maior parceiro comercial da China (o primeiro é EUA) e a China responde por 21% do comércio exterior japonês, sendo o maior parceiro. São múltiplas as empresas japonesas instaladas em território chinês. Todos estes aspectos pesam para a busca de uma solução negociada para o problema.