As mais recentes declarações do presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, têm sido de apavorar. Especialmente, as populações do Canadá, do Panamá, do México, da Groenlândia, incluindo-se aí a dinamarquesa e, em especial, a ucraniana. Contra esta última, sem dúvida, vão recair as maiores consequências.
MEGALOMANIA
Trump está sendo esperado como o presidente que irá recolar os EUA no caminho do crescimento e do desenvolvimento. Além de os norte-americanos verem no posto um dirigente com energia, contrastando como frágil Joe Biden. Afinal, o eleitor votou nele por ser um homem de atitude e, acima de tudo, um empresário bem sucedido.
O problema, no entanto, é a megalomania de Trump. Ele quer sempre estar na mídia, não importando as consequências do que diga. Na semana passada ele veio com o assunto de tornar o Canadá o 51º estado dos Estados Unidos. De tão ridículo a colocação, acabou passando. Porém, nesta terça-feira, ele voltou à carga, numa atitude totalmente desrespeitosa a um país vizinho, parceiro de acordo comercial, parceiro na principal aliança militar do mundo, a OTAN, mas com o diferencial ainda de ter a segunda maior extensão territorial do planeta e ser um membro do G-7, o grupo dos sete países mais ricos. Condições que tornam, no mínimo, ridículas as colocações de Trump, para não classificá-las de ofensivas.
ARROUBOS
Ridícula também sua pretensão de mudar o nome do Golfo do México para Golfo da América. Porém, o que deixam de ser ridículas para se tornar ameaçadoras são suas afirmações a respeito da Groenlândia e do Canal do Panamá. Isto porque levantou a possibilidade de uso da força para tomar essas duas áreas. Sem dar a mínima para o fato de que se tratam de áreas de países independentes.
A Groenlândia, embora seja uma ilha, é território da Dinamarca, reconhecido internacionalmente. Já o canal, embora tenha sido construído pelos EUA, em virtude de seus interesses econômicos, foi entregue ao Panamá, em 1999, mediante acordo estabelecido quando do início de sua construção. O canal atende hoje o comércio internacional e não pode ficar sob controle militar de país estrangeiro.
CONFLITO
Já a Dinamarca é parceira dos Estados Unidos na OTAN. Então, imagine-se um país membro da organização sendo agredido por outro país membro. Pois, de acordo com o artigo 5º do estatuto da Aliança Atlântica, quando um país membro é agredido, todos os demais têm que sair em sua defesa. Ou seja, Trump provocaria uma guerra contra toda a OTAN.
O pior nessas declarações do presidente eleito norte-americano são suas intenções totalitárias. Lembrando Hitler que quis tomar conta de toda a Europa e deu no que deu. Daí se esperar que tudo não passe de mais um de seus arroubos de megalomania e que não falte alguém a seu lado para alertá-lo que ações desse tipo não cabem nos dias de hoje.
UCRÂNIA
Já quanto à Ucrânia a situação é diferente. Isto porque ele não disse o que irá fazer, porém, disse entender o que Putin está fazendo. E, ao dizê-lo, está concordando com as ações intervencionistas do presidente russo. Na entrevista que concedeu em Mar-a-Lago na Flórida, ele foi claro. “Uma grande parte do problema [da guerra] é que a Rússia, por muitos, muitos anos, antes de Putin, dizia: ‘Você não pode ter a Otan envolvida com a Ucrânia’. Era algo, tipo, escrito em pedra”, afirmou. “Em algum ponto no caminho [o presidente Joe] Biden disse: ‘Não, eles deveriam poder entrar na Otan’. Bom, aí a Rússia teria alguém à sua porta, e eu posso entender como eles se sentem sobre isso”, completou.
Isto deixa claro que Trump irá se opor à legítima pretensão da Ucrânia de entrar na Aliança Atlântica para se proteger do expansionismo russo. Pois Putin já deixou manifesta, várias vezes, sua saudade dos tempos da União Soviética, quando Moscou impunha seu tacão sobre todos os vizinhos da região.
DIPLOMACIA
O que não fica claro é se Trump concorda com a entrega pela Ucrânia dos territórios que a Rússia já tomou. Este é ainda um aspecto obscuro com relação ao futuro da guerra. E como a 24 de fevereiro, ou seja, pouco mais de um mês após a posse de Trump, a guerra completa três anos, espera-se que Trump deixe de lado seus arroubos autoritários e consiga colocar a diplomacia em campo, para dar um fim a este conflito que só gerou mortes e destruição.