Abordar a questão do conflito histórico entre israelenses e palestinos é sempre uma tarefa difícil e que será alvo de críticas de um ou de ambos os lados. Afinal, estamos lidando com uma das questões que despertam os mais diferentes sentimentos, prevalecendo o ódio. Para se ter uma noção basta acompanhar a série televisiva Fauda (Caos em árabe) para perceber como o ódio e o radicalismo tem se manifestado de ambos os lados.
Conforme relata a AFP, “a brutal representação do dia a dia de israelenses e palestinos tornou a série muito popular, ao narrar as onipresentes restrições relacionadas à segurança, os atentados e as operações noturnas do Exército em áreas palestinas”. Pode-se acrescentar que uma ação de violência de um lado, corresponde a uma reação igual ou maior do lado contrário.
HOJE
O que temos hoje se enquadra nesta última classificação. Estamos vivenciando episódios marcantes, que tiveram início a 7 de outubro de 2023, com os ataques terroristas do Hamas a Israel, que mataram cerca de duas mil pessoas e resultaram no sequestro de outras cerca de 250. Aqui é preciso colocar um parêntese para indagar como os eficientes serviços de Inteligência de Israel não detectaram os preparativos da ação e levaram tanto tempo para reagir.
Bem, mas, o que importa é que tivemos, possivelmente, o mais letal e cruel atentado contra Israel. A resposta, é lógico, era esperada. Ataque das forças de Israel em Gaza, onde os integrantes do Hamas estavam refugiados, especialmente, nos túneis que haviam construído. Uma tarefa dificílima para Israel, não só para caçar os autores do atentado, como para tentar libertar os reféns.
PROPORÇÃO
Pouco a pouco Israel foi conseguindo matar as principais lideranças do Hamas, enquanto bombardeava o território de Gaza. Ali a população palestina vivia como os moradores de comunidades do Rio de Janeiro, onde os narcotraficantes dominam tudo e obrigam os moradores a cumprir suas ordens. No caso de Gaza, as ordens do Hamas.
Paralelamente, Israel foi aumentando seus bombardeios em Gaza e, mesmo diante disto, a Hamas passou a libertar os reféns a conta gotas. Resultado, o aumento do número de civis mortos em Gaza. Um número que foi aumentando significativamente com a intensificação dos bombardeios. Prédios ruíam e a população se via forçada a migrar para outros locais dentro o pequeno território.
CLAMOR
Na medida em que as imagens iam mostrando para o mundo o crescente número de crianças, mulheres e velhos mortos, aliadas ao sofrimento de quem tentava sobreviver, isto passou a chocar as pessoas mundo afora. De repente, se teve a notícia de que o número de mortos já passava de 50 mil e que, desde 2 de março Israel não permitia mais a entrada do material de subsistência para a população – água, comida e remédios. O que, finalmente, foi autorizado nesta última terça-feira.
A situação decorrente da reação de Israel chegou a um ponto tão crítico que governos de países como Reino Unido, França e Canadá resolveram instar o governo israelense a moderar com suas ações. “Os Países Baixos propuseram reavaliar o acordo de associação entre a União Europeia e Israel, em particular o cumprimento do artigo 2, que determina que ambas as partes – Europa e Israel – devem respeitar os direitos humanos”, declarou o porta-voz do governo Jean-Noël Barrot à rádio France Inter.
RESPOSTA
“Vocês estão do lado errado da humanidade e do lado errado da história”, declarou Netanyahu, acrescentando que esses países estariam incentivando o antissemitismo. Mas, aí é de se perguntar: é a Europa, que se compadece dos horrores da guerra, ou é governo israelense, com sua reação desproporcional que alimentam o antissemitismo?
À medida que o fluxo de imagens de destruição e fome em Gaza continua, alimentando protestos em países de todo o mundo, o governo israelense tem se esforçado para mudar a opinião pública mundial, que está cada vez mais contra ele.
ESTADO
Porém, nesta semana houve conflito até no Parlamento israelense. O deputado de oposição Ayman Odeh falava no púlpito quando foi retirado pela segurança do local. “Eles me arrastaram para fora do pódio do Parlamento, não por quebrar uma regra, mas por falar a verdade do que acontece em Gaza”, disse, em publicação no X em que narra a situação, que aconteceu.
As autoridades israelenses estão particularmente preocupadas com os crescentes apelos para que países europeus, incluindo a França, sigam outros, como Espanha e Irlanda, no reconhecimento de um Estado Palestino como parte de uma solução para o conflito. Netanyahu argumenta que um Estado Palestino ameaçaria Israel. “Eles não querem um Estado Palestino. Eles querem destruir o Estado Judeu”, expressou o premiê em uma declaração na plataforma de rede social X. É verdade. Esta é a filosofia do Hamas, mas que é minoria. O Fatah, que controla a Cisjordânia e a Autoridade Palestina, aceita a solução de dois estados. Então, cabe investir em quem quer a convivência pacífica, caso contrário estaremos vendo crescer o ódio entre as partes e o antissemitismo pelo mundo.