A primeira ministra britânica Teresa May está atravessando um oceano de águas muito agitadas. Atentados terroristas, incêndio em um prédio e decisão sobre como deixar a União Europeia sem traumas. Ou, quem sabe, como reverter a decisão sobre o Brexit. May assumiu em função da renúncia de David Cameron, decorrente do fato de ter perdido o plebiscito em que a população foi convocada a dizer se queria ou não continuar a fazer parte da Europa. Nos primeiros dias na chefia do governo May navegou em águas tão tranqüilas que resolveu convocar eleições antecipadas, pois via a oportunidade de aumentar sua bancada na Câmara.
Não contava com a sucessão de fatos negativos que viriam a seguir e que a fizeram diminuir a bancada a ponto de perder a maioria no Parlamento. Quatro atentados em menos de três meses, cada um com vários mortos e feridos. Mais de 70 mortos em um incêndio. Um movimento independentista na Escócia e na Irlanda do Norte que votaram contra o Brexit, entre outras coisas. As acusações sobre os atentados pesaram mais pelo fato de May ter diminuído a verba para o setor de segurança e ter reduzido o número de policiais. Mesmo que tivesse aumentado os contingentes policiais, seria impossível evitar o tipo de ataque em que um desequilibrado mental vem trafegando por uma rua e de repente investe contra as pessoas na calçada. Por mais que os serviços de inteligência se esmerem na coleta de dados sobre possíveis autores de atentados é praticamente impossível evitar este tipo de ato. Assim como seria impossível para a primeira-ministra ter tomado alguma ação que tivesse evitado o incêndio do prédio de Londres. Mas tudo acabou pesando contra ela.
Nesta terça-feira, a rainha Elizabeth II foi ao Parlamento, anunciar o plano de governo da primeira-ministra, conforme manda a tradição. Ciente dos riscos, o governo elaborou um texto bem enxuto a ser proferido pela rainha. Estavam relacionadas ali várias leis a serem aprovadas pelo Parlamento envolvendo o Brexit. Algo para ser feito com muita parcimônia, dando tempo para que as discussões, quem sabe, possam ainda levar a uma reversão quanto à saída da UE.
E a propósito, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, em uma cúpula em Bruxelas, nesta quarta-feira, usou a letra da música “Imagine”, de John Lennon, (“you may say I’m a dreamer, but I’m not the only one”) para justificar sua esperança de que o Reino Unido venha a mudar a decisão sobre a separação. Esta é também a esperança de 60% dos londrinos que votaram contra a saída, assim como daqueles que, ao verem as perdas decorrentes da decisão, mudaram de opinião. Resta ver se o sonho de Tusk irá se realizar.