A guerra civil na Síria vinha registrando um enfrentamento bélico indireto entre a Rússia e um país membro da OTAN, no caso a Turquia. Esta confrontação vinha se dando na província de Idlib, noroeste da Síria, onde as forças governamentais combatem o último bastião de resistência ao ditador Bashar Al-Assad. Ocorre que a Turquia resolveu apoiar esses rebeldes, para estabelecer um enclave em Idlib, para onde mandaria parte dos 3 milhões e meio de sírios que estão refugiados em seu território. Porém, Assad quer o domínio pleno do território sírio e tem contado para isto com o fundamental apoio militar da Rússia. Cinquenta e nove soldados turcos já morreram nos combates, sendo 39 deles bombardeados pela aviação russa. No domingo dois navios de guerra russos se dirigiram para a costa síria. As fragatas fazem parte da Frota do Mar Negro e foram se juntar a uma força de 15 navios russos que já estão na região. E, se a Turquia fosse em frente, a guerra poderia tomar outras proporções. Como membro da OTAN, a Turquia poderia invocar o tratado da organização, o qual diz que quando um membro for atacado por outro país, todos os integrantes da Aliança Atlântica deverão sair em seu auxílio.
No entanto, o presidente turco Recep Tayyip Erdogan não goza de nenhum prestígio no Ocidente. E a OTAN poderia alegar que a Turquia não foi atacada, mas atacou o seu oponente. Até porque não quer entrar numa guerra contra a Rússia. Diante disto Erdogan foi a Moscou onde conseguiu acertar uma trégua com Vladimir Putin. Não ficou explícito, mas é lógico que a Rússia exigiu o afastamento turco da área, porque ela tem interesse numa Síria totalmente unificada, sob o comando de Assad, para que possa estender seu oleoduto e seu gasoduto do Cáucaso para o Mediterrâneo, além de reformar sua base militar naquela área e sua influência na região.
Sobrou para Erdogan a possibilidade de chantagear o Ocidente, ameaçando abrir a fronteira com a Grécia e permitir que o enorme contingente de refugiados que está no seu território migre para a Europa. Provocando uma grande invasão como ocorreu em 2015, a qual criou problemas que não só não foram resolvidos, como parecem se eternizar, em função dos choques de culturas. Em 2016, a Turquia assinou um pacto com Bruxelas para conter o fluxo de migrantes. No entanto, ameaça romper este acordo para obter apoio na guerra na Síria. Assim é que caberá a Bruxelas movimentar sua diplomacia e seu cofre, porque para segurar os refugiados em seu território a Turquia está recebendo polpudos recursos do Ocidente. E, seguramente, para não abrir a fronteira vai querer muito mais. Será o preço a pagar para evitar uma guerra e uma nova invasão de refugiados.