Vira e mexe e volta-se a falar em Terceira Guerra. Nesta quarta-feira, foi a vez do porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, fazer esta menção ao responder a uma declaração do presidente americano Donald Trump no sentido de que “Putin está brincando com fogo,” e depois de ter chamado o russo de “louco”. As declarações de Trump estão no contexto de sua frustração depois de seu fracasso como mediador do conflito. Porém, estão também num cenário que se torna cada vez mais perigoso, depois de dois fatos.
Um deles, a mobilização militar da Rússia nos últimos dias e os potentes ataques aéreos que realizou contra a Ucrânia. O outro fator que cria um cenário de guerra ampla entre Rússia e o Ocidente, prende-se ao anúncio, feito na terça-feira, pelo novo primeiro ministro da Alemanha, Frederich Merz, dizendo que Alemanha, Reino Unido e França estavam autorizando o uso de mísseis de longo alcance contra qualquer parte do território russo. O que se pressupõe também contra a capital, Moscou.
RESTRILÇOES
Até há pouco havia muita restrição quanto ao uso de armas ocidentais em território russo, tendo em vista que o Kremlin havia alertado que esta atitude equivaleria a uma declaração de guerra do Ocidente contra a Rússia. Tanto que, sob Joe Biden, os Estados Unidos não autorizaram este tipo de ação. Agora, porém, como a Europa se sente isolada pelos EUA – assim como também a Ucrânia – resolveu ir em frente, visando dar um basta a Moscou.
Prova disto, que, além da questão de armas, a Europa decidiu aumentar as sanções. Ao mesmo tempo em que deixava de comprar o pouco de gás que ainda vinha da Rússia. E mais, decidiu bloquear a chamada “frota fantasma” russa. São navios mais velhos, sem bandeira, que fazem o transporte clandestino de petróleo russo para países que ainda são compradores.
REAÇÃO
A reação russa veio, nesta quarta-feira, de forma contundente. Com manobras aero navais no Mar Adriático e com a advertência de que a frota russa reagirá contra qualquer manobra de obstrução de seus navios petroleiros. A propósito, essas manobras russas se desenvolvem junto às costas de países membros da Otan, como Finlândia, Letônia e Estônia. Os pontos de partida desses navios e aviões são as bases em São Petersburgo e Kaliningrado. No entanto, alguns aviões partiram de outros pontos do território russo, sobrevoando por mais de um minuto territórios da Otan, quais sejam da Letônia e da Estônia. Numa atitude considerada provocadora.
MOBILIZAÇÃO
Enquanto isto, tem-se a notícia de que a Rússia mobiliza um contingente de 50 mil militares para entrar na Ucrânia. Simbolicamente, o contingente está sendo reunido em Kursk, área que havia sido tomada pela Ucrânia, mas, que a Rússia recuperou com a substancial ajuda de soldados da Coreia do Norte.
Os recentes ataques aéreos – os mais fortes desde o início da guerra a 24 de fevereiro de 2022 – somados à mobilização desse imenso contingente de soldados, demonstram que a Rússia vai querer tomar algumas áreas que estão dentro do seu objetivo inicial, mas, que ainda não foram conquistadas. Quer isto para negociar um possível fim da guerra em uma posição vantajosa.
GUERRA
E aí vem a questão crucial diante do atual quadro de ações e declarações. Especialmente, porque a Europa está dando respaldo à posição do presidente ucraniano Volodimir Zelensky de não entregar nenhuma parte de seu território. E a posição europeia se fundamenta em dois fatos. Um, deter Putin por entender que, depois da Ucrânia, ele tentará ir adiante com outras invasões. Outro, não compactuar com a violação dos preceitos estabelecidos pelas Nações Unidas ao final da Segunda Guerra, que proíbem a tomada de territórios pela força.
ALEMANHA
A Alemanha, especialmente, resolveu dar todo o respaldo à Ucrânia por haver a convicção no país de que a Europa ficará ameaçada no futuro no caso de vitória de Putin. A propósito, no último dia 5, o ministro da Defesa alemão, Boris Pistorius, foi até o Parlamento para manifestar sua convicção de que, a continuar o atual quadro, será inevitável uma guerra da Alemanha com a Rússia. E projetou que isto irá acontecer até 2029. Não é sem razão que o país investiu, em 2022, 100 bilhões de euros na Defesa e, neste ano, já passou a verba para 200 bilhões de euros.
Já a Polônia decidiu passar a investir 5% de seu PIB na Defesa. E aumentou seu contingente militar para 500 mil soldados. Ou seja, diante de tudo isto, o cenário de uma nova grande guerra é ameaçador.