O presidente norte-americano Donald Trump não tem saído dos noticiários nos últimos tempos. Não bastassem as brigas com todo o mundo em função das taxas, ele tem comprado brigas internas. E sua mais recente estocada foi contra o presidente do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos. Nesse ponto, imitou o presidente Lula do Brasil. Só que, aqui Lula ficou só na vontade de interferir no BC. Lá Trump foi mais longe. Disse, nesta quinta-feira, que iria destituir o presidente da instituição, Jerome Powell. Tanto lá quanto aqui, esta não é uma atribuição do presidente da República. Mas, Trump acha que pode tudo. Até se candidatar a um terceiro mandato, algo inexistente na Constituição dos EUA.
MOTIVO
A bronca de Trump, tal qual a de Lula aqui, é contra o fato de o FED manter os juros altos. Aqui o BC não baixa os juros devido aos desmandos de nossa política econômica, que puxam os preços para cima. Lá, é devido as taxas de Trump que, só ao serem anunciadas, já provocaram elevação de preços dentro do país.
“Se eu quiser Powell sai do FED muito rápido”, disse Trump aos jornalistas na Cada Branca. E aí vem a pergunta: ele tem poderes para tal? A independência do Fed é garantida pela Constituição dos Estados Unidos, portanto seu “chairman” não pode ser demitido sem justa causa pelo presidente dos EUA. E o atual dono da cadeira principal da autoridade monetária, Jerome Powell, já garantiu que não renunciaria caso Trump pedisse seu cargo. O que Trump pode fazer é tentar interferir num processo que deve entrar em pauta em maio na Suprema Corte, que visa modificar os poderes do FED.
RECIPROCIDADE
Em meio a essas ações comparativas entre Trump e Lula, tivemos nesta semana um episódio que envolve os dois dirigentes, embora não diretamente. Refiro-me ao fato de 69 cidadãos americanos terem sido barrados de entrar no Brasil, por não possuírem o visto de turista. Uma medida que foi estendida também para cidadãos do Canadá e da Austrália. Neste caso, trata-se de ação de reciprocidade. O que me parece correto. Assim como é exigido visto para os cidadãos brasileiros entrarem naqueles três países, o governo brasileiro passou a exigir o mesmo. Ao todo, 96 cidadãos dos três países foram impedidos de entrar no Brasil, entre os dias 10 e 15 de abril.
SUPREMO
E não foi só com referência a esses assuntos que o Brasil esteve em destaque no noticiário internacional nesta semana. Deputados e membros da Suprema Corte também estiveram em evidência. E de forma muito negativa, em matéria feita pela revista britânica The Economist. A matéria coloca em relevo as extrapolações do ministro Alexandre de Moraes, que é qualificado como um juiz com “poder excessivo”. O artigo destaca as violações à liberdade expressão por parte de Moraes, como o bloqueio determinado ao X em 2024. A revista atenua a ação de Moraes, dizendo que sua atuação mais incisiva pode ser pelo fato de ser alvo de constantes ameaças de morte. Mas, enfim, a contestada ação de Moraes repercute no exterior.
Vexatória é a classificação para nossos deputados. Depois de dizer que o Supremo ganhou poder na medida em que o Executivo perdia legitimidade e o Congresso se via paralisado por escândalos e impasses, veio a constatação: “A democracia brasileira vem sofrendo golpes ao longo das últimas duas décadas e grade parte da culpa recai sobre seus políticos corruptos”. Ou seja, chega lá fora aquilo que constatamos aqui.
LAVA JATO
E aqui no Brasil, temos falado com frequência, foi para o espaço a operação Lava Jato, que nos deu a ilusão de que a corrupção estava sendo combatida no país e os colarinhos brancos estavam indo para a cadeia. Embora os corruptos tenham até devolvido o dinheiro da propina, “nada existiu”. Porém, investigação desta operação que fora pilotada pela então Odebrecht e que estendeu seus tentáculos pela América Latina e África, encontrou um porto seguro no Peru.
Naquele país, quatro ex-presidentes já foram condenados. Um deles chegou a se matar para não ir preso. Alan Garcia. E nesta semana tivemos a condenação de mais um, Ollanta Humala, que pegou 15 anos de cadeia, juntamente com sua mulher Nadine Heredia. E aí mais um absurdo brasileiro. A condenada por corrupção pediu asilo na embaixada brasileira em Lima, e o nosso governo mandou um avião da FAB resgatá-la. Ou seja, pagamos para dar proteção não a uma perseguida política – como seria aceitável – mas, a uma corrupta, condenada em seu país. Mais uma proeza brasileira.